segunda-feira, 4 de abril de 2011

Primeiro

Essa história é verdadeira...

Eu tinha 7 anos quando gostei pela primeira vez de alguém. O nome dele é Rafael. Eu me lembro que, certo dia, depois da aula, subi para minha cama – eu dormia na parte de cima da beliche – e escolhi um papel de carta bem bonito para dar para ele. Eu mal sabia escrever, mas lembro que peguei meu estojo, escolhi um lápis, e rabisquei, com letra de forma: "beijo". Foi só isso. Só isso, mesmo. Mas a minha mãe quase me matou.

Ela me viu muito interessada mexendo nas minhas coisas, selecionando papéis e lápis – eu acho que cheguei a confirmar com ela a grafia de "beijo", mas sobre esse ponto não tenho realmente certeza... Sei que, depois de muito trabalho – de certa forma, a garota de 7 anos era um prenúncio da mulher de 32 – minha mãe resolveu checar qual o motivo de toda minha movimentação e evidente contentamento na beliche:

" – Fabíola, o que é que você está fazendo aí?
– Eu, mãe?! Nada!! (será que a gente mente por instinto? Psicólogos de plantão, manifestem-se!)
– Então deixa eu ver isso aí nas suas mãos!
– Ah, não, mãe, é coisa minha... "– já assustada e meio chorosa, tentando colocar a carta atrás do corpo.

É óbvio que a minha mãe leu A carta, A declaração de amor que eu fiz para o Rafael. E não só leu, como me passou um sermão: que eu, menina, não poderia mandar beijos para um menino. Que meninas decentes não mandam beijos para meninos. E que se eu, menina decente, resolvesse correr o risco de – pior ainda! – beijar um menino, eu me tornaria uma menina má, e – mil vezes pior! – seria mal falada.

Depois de todo esse sermão – e da minha declaração de amor pueril confiscada pela minha mãe – eu não tive coragem de escrever outra carta para o Rafael. Às vezes aquele garoto com cabelos cacheados castanhos e pálpebra direita meio caída – ele tinha um rosto de anjo! – sorria para mim no recreio, e o meu rosto, na hora, sempre ardia de tão vermelho. Mas, no fim das contas, a gente nunca se beijou.

Só muito tempo depois, adultos, cada um indo para o seu trabalho, e só no rosto... quando, por duas vezes, a gente se cruzou no metrô. Ele ainda tem o mesmo rosto de anjo, e por isso o reconheci. Mas ele também me reconheceu, de imediato. Considerando que nós estudamos juntos apenas durante a primeira série – em 1986 – talvez ele também tenha querido, naquela época, me beijar.


Ainda bem que o tempo passa, e a gente aprende algumas coisas importantes na vida. Não sei se foi por isso, mas o meu primeiro beijo, anos depois, foi, tecnicamente, um desastre. Fiquei mal – de novo! – na época, mas nada que a prática não tenha aperfeiçoado.

E, como hoje eu já sei que beijar não me tornará uma menina mal falada, mando beijos, muitos, e sorrisos também, para todos os garotos e garotas que me lêem. E, ah! Muito obrigada... já são quase 450 acessos. Uau! Estou feliz.

Um comentário:

  1. O seu texto me fez viajar no tempo... obrigada!
    beijo grande e estalado pra vc.

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