quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Albus


Não foi uma manhã de sábado, tampouco uma tarde de domingo no parque.
O dia que ainda corre e escorre por entre os dedos não é vermelho, nem amarelo... também não se vislumbrou nele o arco-íris.
Ainda assim, o retrato da avó lhe sorriu pela manhã de um jeito diferente.
A rosa – agora solitária – suspirou e exalou um tênue perfume.
Um punhado de uvas passas claras deixou na boca um gosto mais doce.
E um livro com bela capa e todas as páginas em branco lhe foi entregue.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Fertilidade

Se é mesmo verdade que tudo nesta terra tropicana só começa, de fato, depois do Carnaval... lá vamos nós! Eis-me aqui, de volta!


Depois de ensaiar uma retomada que acabou não acontecendo, volto hoje cheia de idéias - nada exatas - e palavras que se pretendem únicas...


Isso é bom. O tempo anda escasso, a vida cada vez mais exigente, e, tanto quanto, bela e plena. Estou, mesmo, cheia de planos e desejos. Estes são tempos verdes... que venham os frutos! Ando grávida da vida, grávida de mim.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Imanência

Para 15 de fevereiro, quarta.


Imanente, a sua paixão. Apaixonado por tantas coisas... buscando os significados... esperando e lutando por tantos sonhos e expectativas...

Imanente, a sua força. Crente de que tudo é possível, crente na bondade das pessoas, mantendo sua fé e seu otimismo (quase) inabaláveis.

Imanentes, suas fragilidades, e sua coragem. Precisa muita coragem para se expor, para pedir desculpas e dizer: “olha, desculpa. Só te falei isso para me defender, na verdade. É que você tocou em uma fragilidade minha”.

Há momentos em que palavra e gesto se encontram. Palavra e gesto se encontram e se fundem. E tudo o que é imanente alcança a exterioridade. Palavra e gesto. Intenção e ato. Imanentes, transcendem.

Alteridade

Para 14 de fevereiro de 2012, terça-feira.


O outro e suas necessidades.
O outro e suas vontades.
O outro e suas escolhas.


No outro, nossos desejos.
No outro, as respostas aos nossos anseios.
O outro e nosso pedido de silêncio.
Aconchego.
Acolhimento.


Há que se ter sabedoria...


Entender quando o outro é complemento - e quando é preciso afastamento. Entender que o outro é espelho. Entender que o outro precisa continuar uno - assim como nós mesmos - para que, aí sim, seja possível unir, e somar.


"Eu não sou eu
nem sou outro
sou qualquer coisa de intermédio
pilar da ponte de tédio
que vai de mim
para o outro"


Mário de Sá-Carneiro.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Para ouvir

Porque...
"... tudo o que cala fala mais alto ao coração"

Interlúdio

Para 13 de fevereiro, linda segunda-feira.


Por vezes, o espaço é mais importante que as palavras que o circundam. O espaço e tudo o que ele contém: partículas de expectativa em suspensão, a curva da melodia, o silêncio.


Por vezes é preciso calar, e ouvir o silêncio. Ouvir a expectativa, a respiração em suspenso, o tempo do outro, a espera. O outro e sua história. O outro e a música da sua vida. Cada ser carregando suas marcas, sua história. Pode-se esperar por muito tempo... há esperas e há histórias que duram toda uma vida.


Sabia agora que não foram as palavras, mas sim tudo o que não fora dito - tudo o que coube no breve e intenso espaço entre uma palavra e outra - era aquilo que mudaria sua vida.


Um interlúdio. Um interregno. A vida em transição.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Trabalho

A exata palavra para estes últimos dias... trabalho, muito trabalho.

Mas isto não é um lamento. Definitivamente. É muito bom fazer o que se gosta. Tal como "comer o que se gosta é um privilégio", trabalhar com o que se gosta é uma dádiva.

Aqui registro, para estes dias, palavras que me encantam...

"A vida se encolhe ou se expande em proporção à própria coragem". Anaïs Nin

"Não se dê por vencida ao tentar fazer aquilo que realmente quer. Se houver amor e inspiração, creio que você não pode errar". Ella Fitzgerald

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Bem querer

A florida expressão para 08 de fevereiro, quarta-feira.

As flores do dia não foram rosas. Desta vez, crisântemos. Um colorido ramalhete... crisântemos brancos, amarelos, vermelhos. Envoltos em papel de seda, sem maiores cuidados, como se tivessem sido retirados, há poucos instantes, do jardim.

Lembrou de "bem me quer, mal me quer". A brincadeira da infância, revisitada naquele exato instante: "bem me quer, bem me quer. Bem me quer, bem me quer, bem me quer, bem me quer".

"Flores para quando chegares
Flores para quando tu chorares
Uma dinâmica botânica de flores
Para tu dispores
pela casa"

Flores, por Fred Martins e Marcelo Diniz, cantada por Zélia Duncan.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Comida


Hoje a mulher de um paciente chorou quando retirei a sonda naso-enteral que o alimentava e falei: “pronto, agora ele pode voltar a comer por boca.” Rapidamente, entre lágrimas e sorrisos, começaram as perguntas:

“E ele já pode comer cuzcuz? Tapioca, pode? Mingau de fubá, ele gosta... pode também?”

Eu sorria enquanto respondia, pensando que eles não tinham ouvido nada do que eu falado minutos atrás... mas é sempre assim. Comida, em nossa cultura, é expressão suprema de carinho, de cuidado, de afeto.

Quando os familiares ouvem que a pessoa a sua frente, que tem requerido tantos cuidados, que há pouco tempo esteve em um leito de hospital, lutando para sobreviver... quando ouvem que essa pessoa deu mais um passo em direção a sua recuperação... tudo o que eles querem é celebrar. E qual melhor forma de celebrar se não... comendo? Comendo o que se gosta?

Qual a melhor forma de demonstrar afeto se não por meio de gestos carinhosos, que se traduzem no separar e juntar ingredientes, batê-los, aquecê-los ou resfriá-los, transformá-los em algo saboroso, que alimente o corpo e a alma?

Por isso os familiares sempre se alvoroçam, quando o paciente volta a comer por boca. E dá-lhe perguntar “se já pode comer” tudo o que ele ou ela gosta. Alimentar-se é necessário. Comer o que se gosta é um privilégio... Seja macarrão, tapioca, cuzcuz, café com leite... pipoca, sorvete de chocolate, bife frito, pão francês, pirão... comemos para alimentar não só nosso corpo. Comemos para alimentar nossa alma e nossas relações. Comemos para celebrar a vida.

Para compartilhar

Li estes textos ao longo de 2011... são opiniões distintas, mas todas bem fundamentadas, sobre casamentos, sobre relações:


por Martha Medeiros:
Casamento é um estado de espírito
Promessas de casamento

por Stephen Kanitz:
O contrato de casamento
O segredo do casamento

por Gustavo Gitti:
Como esfriar sua relação
Casar por amor é uma péssima idéia

O livro "O Desafio de Amar" me foi apresentado já após a separação. Se teria feito diferença? Não sei. Mas é um bom livro, sim. O filme eu não assisti.

Contundente


A precisa palavra para 06 de fevereiro.

Se há algo que não se pretende para este post é a exatidão. O que não me impede, em absoluto, de registrar aqui os fatos ocorridos. Crônicas da vida?

Foi com surpresa e tristeza que ontem tive a notícia de mais dois casais próximos que se separaram... são agora, portanto, seis relações desfeitas, desde que a minha separação aconteceu (uma aconteceu ainda em 2011, e as outras todas nestes primeiros 37 dias do ano).

Inevitável perguntar-se: “Por quê”? Essa pergunta não encontra resposta pronta, mas não se cala: “Por quê? Por quê? Por quê”?

...

O que eu desejo, profunda e sinceramente? Que todos os envolvidos conheçam suas razões, seus “porques”. Separar-se nunca é fácil. É sempre dolorido, sempre machuca. Impossível sair de uma relação sem sair ferido. Sair de uma relacionamento significa sair carregando suas mágoas e seus sonhos desfeitos. E dá-lhe lágrimas, e dá-lhe desconstrução, por todos os lados... o ex-casal, as famílias, os amigos.

A mais precisa e concisa pergunta que ouvi, quando me separei, foi: “você tem certeza do que você está fazendo, Fabíola”? Penso que talvez esta seja a única pergunta, afinal, que se pode fazer. “Você tem certeza? Você sabe o que está fazendo”?

Fundamental esse saber. É preciso que faça sentido. Porque é tudo triste e dolorido demais. E só mesmo esse saber para minimizar o sofrimento... só esse saber para fazer com que a gente carregue, além da tristeza, os frutos... as boas lembranças, o carinho, o respeito.

Um

Para domingo, 05 de fevereiro de 2012.


O dia longo e agradavelmente cheio. Lugares e pessoas, falas e imagens se sucedendo. Sabia que, entretanto, se lhe pedissem uma só imagem, só um gesto, mais que depressa sua memória alcançaria o instante em que as cabeças, bem de leve, se tocaram... e se ouviu um suspiro, e se adivinhou um sorriso.


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Costura


A avó, em meio aos seus mágicos instrumentos de costura – um universo delicado e colorido de agulhas e linhas, tecidos e botões, zíperes e laços – havia lhe ensinado que, sempre que uma costura não dava certo, era preciso parar, refletir, para então retomar o trabalho e prosseguir.

Hora de parar, de novo.

Haverá conserto, esta costura? Será possível unir as diferentes fazendas? Ou foi errada a escolha do tecido?

Vermelho


Para 03 de fevereiro, sexta.

A paixão é vermelha.
A ira, também.

Ambas incandescem e consomem.

Escoam os grãos de areia, na ampulheta.

Haverá tempo?
Ainda há chama?

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Dístico


Os versos exatos para 02 de fevereiro, quinta.

Rosas veludo escarlate sobre a mesa
E um cítrico perfume no ar.

Sutileza


A Letícia filosofando sobre educação, comunicação, e as indelicadezas no mundo...
As exatas palavras de uma linda garota de 8 anos para 1o. de fevereiro de 2012.

– Letícia, querida, como foi o seu primeiro dia de aula?

– Ah, tia, a professora falou que a minha letra é feia e que eu tenho que fazer caligrafia.

– Ah... Bom, o que você acha da sua letra, Lê?

– Ah, tia, ela não é mesmo muito bonita, não. Mas precisava a professora me dizer isso logo no primeiro dia de aula?

– Ah, Lê, mas a gente vai à escola para aprender, não é mesmo? Pensa nisso, e começa logo a treinar caligrafia.

– Eu sei, tia, mas quem tinha que aprender é a professora. Sabe, ela poderia ter dito assim: 'sua letra não é muuuuuito bonita, Letícia', e não dizer, logo de cara, que minha letra é feia. Ela precisava aprender a falar.