quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Comunicação


Ou elo, ou entrega. As palavras para este dia.

Hoje, trabalhando, tive uma alegria especial. Uma de minhas pacientes, afásica, voltou a escrever. Nós trabalhamos a escrita há algum tempo, por meio da cópia – ela lê bem, mas não conseguia escrever espontaneamente. De repente, estamos lá, no meio da terapia, e ela começou a escrever. Escrever sozinha, escrever o que queria, o que estava pensando. E o que foi que ela escreveu? “Falar de voce.” Depois, na seqüência, escreveu também que queria falar sobre a irmã.

E eu, sorrindo por dentro e por fora, pensei que, nesta vida, a gente vive para se relacionar. Vivemos para criar laços. Para construir pontes. É para isso que vivemos. E nos relacionamos, o tempo todo, por meio da comunicação.

É comunicando, é tornando comum, que eu me relaciono, me aproximo do outro. É por meio da fala, do gesto e do olhar – que também tanto comunicam – que eu toco o outro, que eu faço saber minhas idéias, meus sentimentos. Na comunicação acontece – ou deveria acontecer...– a entrega. Na comunicação se estabelecem os elos.

E eu estabeleço elos todos os dias. Todos os dias, eu me entrego. Faço da comunicação meu ofício... faço da minha paixão pelo cuidar, pelas pessoas e pela própria comunicação minha rotina, meu espaço, meu labor. O tempo todo, comunico, e trabalho para que as pessoas comuniquem. Faço isso porque acredito que a vida é rica, é dádiva por demais preciosa, e precisa ser celebrada, “colhida”, diariamente. A vida não precisa de grandes acontecimentos... a gente celebra o instante, o cardápio de hoje – e o que se planeja para daqui um ano.

A vida acontece, o tempo todo – e isso merece ser comunicado, compartilhado e celebrado.

Para ouvir

Tantas palavras possíveis para ontem... as melhores não são minhas, entretanto. Ficam aí, na voz de Norah Jones.


Come away wtih me...

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Memória

Em memória da minha amada avó, Celina Maretti.

Hoje faz cinco anos que você se foi...

Sua essência está aqui. Eu a carrego dentro de mim. Não carrego apenas seu sangue. Carrego suas células, suas idéias, seus ideais... carrego a lembrança do carinho e do amor que você sempre dedicou a todos nós... carrego seu exemplo, sua vontade, sua garra, sua determinação.

Carrego (alguns) dos seus defeitos  – até por isso nós brigamos tanto. Carrego sua teimosia... carrego sua vontade de querer sempre tudo do jeito certo. Carrego o desejo (impossível, hoje eu sei) de querer tudo perfeito, sempre. Confesso que ainda sofro por isso...

Carrego o nome que você escolheu para mim (e que eu amo...). Carrego toda minha formação, com a qual você sempre se preocupou. Carrego seu apoio em todas as minhas escolhas  – mesmo quando elas não lhe pareciam as melhores. Carrego a alegria de não ter saído da sua casa aos 20 anos  – sim, teria sido mesmo um erro - quando você chorou e me falou: "não faça isso, ainda não é a hora!"

Se você pudesse (será que pode?) me ver, de algum lugar... sei que brigaria comigo  –  mas quando a senhora não brigou? Posso te dizer, sobretudo, que se estou aqui, inteira, íntegra, respeitando meus princípios, seguindo minha vida... é porque tive a honra e a dádiva de viver todos os dias, até o fim da sua vida, ao seu lado. Eu carrego a sua vida, na minha  – com muito amor.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Espelho

Porque hoje é Natal, e tanto se fala em amor...

Nós somos espelhos, já disse Rubem Alves. E refletimos a imagem daquele que, em nós, se mira. Em um relacionamento, é preciso que o outro se sinta bem, para estar conosco. Se o reflexo no espelho é admirável, o outro permanece. Por outro lado, se a imagem refletida não agrada, é bem provável que o outro busque outra superfície, na qual possa se ver melhor. Tal qual Narciso, é por nosso reflexo que nos apaixonamos – é preciso que haja beleza, portanto.

Eu, você, cada um de nós... pensemos no poder que temos, enquanto espelhos, em uma relação. Se eu espelhar e apontar, com o dedo em riste, apenas os defeitos do outro... ele vai acreditar, e se entristecer – nós, humanamente, acreditamos naquilo que nossos sentidos nos contam. A vida – ah, a vida! – entra em nós pelos sentidos...

Como tocar amorosamente os sentidos do outro? Se eu, espelho, refletir a beleza do outro... se eu, espelho, enaltecer as qualidades que ele próprio duvida ter... se eu, espelho, lhe mostrar a beleza e a vida que nele existem, pulsando... ele vai crer. E, mais do que crer, ele vai deixar tudo aflorar. E, ainda mais do que crer, e deixar aflorar... ele vai amar o espelho – o espelho que refletiu o que havia de melhor em si próprio.

Sim, nós somos espelhos. Mas, para viver o amor – para viver plenamente o amor – nós precisamos ser espelhos mágicos.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Espera

Esperando a chuva passar...
(nem por decreto vou sair de casa e enfrentar uma tempestade de verão com direito a granizo).
Esperando a noite de Natal chegar...
Esperando 2012 chegar...


Enquanto isso
Escrevo
Reinvento a realidade
Redescubro as idéias
Tiro pó dos sentimentos
Coloco meu vestido mais bonito
Me perfumo
com as pontas dos dedos


A vida segue seu rumo
inexorável
E eu sigo
Caminhando
ora alegre, ora triste
Caminhando
Colhendo a vida


Esperando
a espera
acabar.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Silêncio

Esses dias foram de silêncio porque a vida por aqui tem sido agitada e, por vezes, até mesmo turbulenta.

Hoje, faço silêncio respeitando a dor de pessoas queridas.

Que Deus dê consolo e conforto para vocês.

Tristeza e comunhão
"Os que bebem juntos da mesma fonte de tristeza descobrem, surpresos, que a tristeza partilhada se transmuta em comunhão."

Rubem Alves

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Para ouvir


Presta atenção...
"tem uma história pra sonhar"
Mas precisa querer - e saber - brincar...

Brinquedo


A segunda palavra exata deste dia.

O amor é um brinquedo. E os brinquedos só existem para um propósito: dar alegria. Se não dá alegria, se não dá prazer, não é um brinquedo. Logo, não é amor.

O amor é um brinquedo, e é um brinquedo simples. É caminhãozinho de madeira. Amor é boneca de pano, com vestido colorido e cabelos de lã trançada. Amor não é um jogo, não é parafernália eletrônica. Não se presta para melhorar a performance, não é para ver quem é o melhor, quem vai ganhar e quem vai perder. Amor não é brinquedo para competir. Amor é gangorra. Amor é balanço no parque – você me empurra, eu vou voar... vou para as nuvens, vou sentir o vento nos meus cabelos – sensação bendita, graciosa, que amo... depois a gente troca, eu vou te empurrar, olha! Você vai ver tudo do alto! Olha as copas das árvores... Ei! Estende as mãos e pega um punhado dessa nuvem! Faz um algodão doce com ela... Chama, será que algum anjo vai te ouvir?

Amor é brinquedo que às vezes a gente brinca sozinho... pois que nem sempre há com quem compartilhar. Nessas horas a gente brinca sozinho mesmo, porque viver sem brincar é triste demais. Mas aí, de repente, você está lá, no parque... e a vida engraça, e a gente encontra com quem brincar...

Hoje, como tantas outras vezes, eu pensei no Rubem Alves.

Beleza

A primeira palavra exata do dia.

De repente, a vida sorri e vai, aos poucos, se enchendo de beleza.

Beleza branca e amarela... beleza para se preparar, para se despedir do ano, de tudo o que passou. Beleza, alegria e leveza... para celebrar mais uma passagem, para se abrir para o novo, mais novo do que nunca nessa vida.

Alegria luminosa... duas cores para colorir a sala, a cozinha, as últimas horas de agora, e as que estão por vir.

Leveza amarela e branca... para compartilhar sorrisos, lágrimas, sonhos, tristezas e alegrias. Para encantar. Para acolher. Para abraçar.

Depois de compartilhar tantas coisas nesse ano...
vai ser uma alegria especial passar o ano com você, Sílvia querida.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Resolutiva

"Eu queria amenizar isso” – ele disse com uma voz doce.

"Queria?" "Queria?" Vamos mudar o verbo e o tempo... chega de pretérito imperfeito. Chega de imperfeição. Passemos ao futuro, no modo imperativo – porque há situações que pedem atitudes resolutivas.

Desapareça.

Simples assim. Não haverá mais o que amenizar.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Porque

"Eu não quero fazer essa travessia."


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."
Fernando Pessoa.

Para ouvir


Não, não é só para ouvir...
É para arrepiar.
Alguém sabe dizer?
Por que "a gente é feito pra acabar"?


Alguém pode me dizer
Por que, afinal, meu Deus,
por que acabou?
Por que a gente deixou acabar?


"Quantas são
as dores e as alegrias de uma vida?"


Ah, tristeza. Eu sei porque.
Eu sei.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Decantar


é preciso. Para sexta-feira, 16 de dezembro.

Surpreendeu-se quando suspendeu o fino tecido que recobria a moringa. Minúsculas impurezas sobrenadantes, maculando o vinho – sim, vinho, porque aquele ela queria provar todo dia... vinho que era sua água, para bem viver – vinho caro, raro, palatável... aguardara tanto tempo para provar-lhe o sabor.... não, não iria se resignar. Ciente de si, de seu querer, preparou-se... iria decantá-lo.

Topografia


Para quinta-feira, 15 de dezembro.

Os olhos alcançaram a placa de trânsito que não era mais só uma placa de trânsito. Depois os pés perfizeram o trajeto que não era mais só um trajeto, dois pontos ligando início e chegada. Ruas e espaços valorados... o cruzamento, a padaria, a rua da padaria. Topografia urbana revisitada depois de experenciar encontros, de suspirar amor.

Olhou ao redor e desejou que aqueles tantos passantes não vivessem seus dias imersos no marasmo e na ignorância. Mas que pudessem se entregar, se apaixonar, mergulhar... viver... mesmo que fosse para sofrer, depois.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Para ouvir


"I know that this is not goodbye..."

Partilha

Partilharam sabores. Palavras. Sorrisos. Lágrimas. Silêncios. Gestos.
Partilharam amor. Eles se amavam. Eles se amaram.
Partilharam histórias. Suspiros. Risos. Gozo. Abraços. Alegrias. Tristezas. E mais lágrimas.

Por fim, um abraço mais longo, dolorido, e, de novo, o silêncio.

Naquele fugaz instante, partilharam a vontade de não deixar partir... a vontade de não se permitir ir...
Naquele intenso instante, partilharam a dor, e a partida. Partilharam seus anseios e suas crenças. Partilharam seus medos, seus desejos e suas esperanças.

Partilharam suas fragilidades e seus sonhos, em nome do desejo mútuo, e maior: partilhar a vida.


Avidez

O sentimento exato para terça-feira, 13 de dezembro.

Ao celebrar meu início de noite magicamente livre depois do segundo hospital do dia... Livraria Cultura. Adoro passear por lá e descobrir títulos ao acaso. Foi por acaso que passei a mão em Mar sem Fim, do Amyr Klink – será que foi mesmo "por acaso"?

Vai entender a vida...

Da leitura despretensiosa no café ao caixa foi um pulo. Ignorei o mal estar que sempre sinto ao ler no metrô, quase perdi o ponto de casa, e continuei lendo mesmo enquanto caminhava. Avidez... vontade de beber e de comer cada palavra. Eu chorei e ri, eu me assustei e me surpreendi com as aventuras marítimas de Amyr... mas o que foi aquilo, se não o feito de toda uma vida?

Será que eu já cheguei ao meu Southern Ocean? Ah, vida! Eu quero mais é mergulhar!

"Voltei para dentro, miraculosamente pouco ensopado. (...) Minutos depois, uma cachoeira lateral vinda do norte bateu na popa, no meio de uma descida de onda, de oeste. O Paratii atravessou. De toalha em punho, escorreguei até bater na parede oposta. Do lado de fora, a retranca, onde eu me encontrava minutos antes, mergulhou inteira na onda, com a vela panejando desesperadamente, até que o piloto retomasse o rumo. (...) Não era exatamente o modo como planejei virar o ano e começar vida nova. As deliberações de Ano Novo se resumiram a uma só: escapar vivo." (pág. 103)


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Colóquio

escolhas
Efeito Borboleta
orientação profissional
relacionamentos
I do
gramática
fonética
Colbie Caillat (Aff! Uma gracinha?! Sei...)
Multishow
decoração natalina
Cidade dos Anjos
Cidade dos Anjos francês
Alanis
Uninvited
choro
Minotauro
UFC
Kierkegaard
Nietzsche
Café Filosófico
Homens de Preto 3
Festas à fantasia
carros
fotografia
Lula
câncer
cirurgia
informações enviesadas
reabilitação
orgulho
viagem
desejo


Às vezes, todas as palavras  inclusive as banais... até mesmo as banais  são exatas.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Atrevimento


Abuso inominável. Ousadia desmedida. Entrou na casa, mexeu no computador, criou uma "my perfect list" no iTunes sem pedir licença... invadiu a cozinha, intrometeu-se no preparo dos ovos mexidos, sugeriu utensílios domésticos para comprar. Quis preparar paella. Mexeu nos livros, achando que passaria despercebido (da próxima vez, preste atenção nas lombadas...). Remexeu nas plantas e alterou os lugares dos móveis da sala. Juntou os jogos americanos, juntou as cadeiras, deixando uma grudada à outra. Atulhou a mesa da cozinha com os livros de receita, a batedeira, o liquidificador. Não quis saber do apoio para as panelas, e transferiu tudo para travessas frias. Reclamou da bicicleta, do barulho, do café e da disposição do talher. Quis discutir religião e política. Sugeriu outra cortina para a sala. Perguntou se poderia escolher "roupas novas" para a moradora. Quis tomar saquê. Desregulou a temperatura da mini-adega de vinhos.
Depois de bagunçar tudo, foi embora sorridente.
Ousado, audacioso, atrevido – e apaixonado. Abusado – e apaixonante.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Mergulho


Irrompeu com a força de águas transbordando de um manancial.
Sobreveio com o ímpeto de uma tempestade em uma tarde de verão.
Precipitou-se, súbito, tal qual maré alta invadindo as areias da praia.


Assim era a força estranha daquele sentimento. Assim era a torrente de desejos que a fazia suspirar toda a vez que o via. Quando o ouvia. Quando o adivinhava sorrindo, ao telefone. Assim eram abruptos e intensos o sentimento, e o desejo.


Por mais absurdos e improváveis e inimaginados e inesperados e inusitados que tenham sido aqueles caminhos, ao longo dos tempos... pela vida afora... restou a ela uma única escolha: mergulhou.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Para ouvir


"I wrote a song for you (...)
Do you know?
You know I love you so"

Amarelo


Acordou solar, e vestiu amarelo.

Amarelo, saboroso como a gema do ovo frito por cima do arroz fresco.
Amarelo espiga de milho.

Amarelo para destacar a hora mais importante do dia. Amarelo encantado como o girassol...

Amarelo, a cor do sonho luminoso que tivera: manhã de sol em um parque, balanços e gangorras, crianças rindo e brincando.

Amarelo alegria.
Amarelo, a mais bela cor para as flores do ipê.

Amarelo para comer com prazer.

Amarelo suave, vigoroso amarelo.
Amarelo... amar o elo... esperar o elo... Amarelo – esperança.

Rascunho


Para 08 de dezembro, quinta-feira.

Tudo o que eu não escrevi ontem...

Os 120 anos da Avenida Paulista, e minhas memórias de lá...
A formação das memórias e sua relação com a emoção - releituras de Antonio Damásio.
A passagem do tempo e nossas percepções.
Ouvir piano no meio da tarde, de passagem em uma estação do metrô.
A cozinha e a escrita – lugares de alquimia.

Por que não escrevi sobre nada disso? Porque me faltou tempo. Porque, ao final do (longo) dia, o cansaço me impediu de, sequer, ligar o micro.

O que me faz pensar que, ou escolhemos bem o que queremos fazer... ou nossa vida vai passar assim, em branco. Rascunho não desenvolvido, tópicos mal escritos de idéias – ideais? que abandonamos.

Precisamos saber viver a própria vida... precisamos ter "o pasmo essencial", a alegria diante da "eterna novidade do mundo".

"O meu olhar é nitido como um girrassol
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando pra direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança, se ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo..."

Alberto Caeiro, in O Guardador de Rebanhos.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Pérola


Às vezes é preciso parar, no meio do caminho.
E olhar, com atenção e cuidado, para si mesmo.
Pode acontecer de você descobrir pérolas...

Ela olhou atentamente para uma sensação aguda e repentina que lhe invadiu a alma. Também observou sua reação e os desdobramentos que se seguiram.

Descobriu, então, a pérola: mudara!

Seu maior compromisso, agora? Consigo mesma.

Continuaria respeitando as pessoas, as leis, as instituições. Mas... o mais alto valor? Era dela, era ela própria. Ela, e sua auto-valia: pérolas valiosas.

A vida muda de perspectiva quando você se respeita.
E muda, de novo, quando se dá conta disso.

Hermeneuta


A exata palavra para terça, 06 de dezembro.

Ela gostou da idéia de se definir uma hermeneuta.
Porque sempre apreciou perceber os sinais suaves, os signos silenciosos. Apreciava o que não fora dito, ou escrito, mas que palpitava, e que determinava o real significado, muito mais do que o que fora verbalmente codificado.
Gostava das nuances, das sutilezas, das entrelinhas.
Percebia no corpo e suas manifestações emoções, sentimentos, relações. Olhava o outro e notava seus caminhos e descaminhos. Suas escolhas e suas razões. Seus signos, seus símbolos. Sua entrega.
A vida, generosa, a presenteara, até então, com raros momentos. Leu nos sinais sutis ao seu redor, entretanto, que algo novo se faria. Era chegada a hora de ressignificar a própria história.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Traje

A exata palavra para 05 de dezembro, segunda-feira.


Tirou de seus ombros o pesado paletó do rigor.
Desatou os nós de tudo o que aprendera até então.
Arregaçou as mangas da incerteza
e desabotoou o colarinho do temor.


Ele estava se preparando. Desejoso de si mesmo, iria, finalmente, começar a viver.


Procuro despir-me do que aprendi, procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu (...)”
Alberto Caeiro.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Oração

Hoje desejei escrever sobre tantas coisas... falar sobre tantas coisas...

Há tanto sobre o que falar...
Há tantas histórias para ouvir...
Tantos sabores por provar...
Uma vida inteira para partilhar.

A alegria que espera o definitivo encontro deu lugar a um medo repentino.
E tudo o que meus lábios e meus pensamentos e meus dedos souberam foi fazer uma oração:

Meu Deus, não permitas que eu toque, tão de perto, o futuro, sem poder vivê-lo.”

sábado, 3 de dezembro de 2011

Para compartilhar

Porque ecoou na minha alma, porque me pareceu absolutamente condizente com a palavra do dia... Martha Medeiros, e o seu "Escolhas":


"E o que é que ela vê nele? Nossos amigos se interrogam sobre nossas escolhas, e nós fazemos o mesmo em relação às escolhas deles. O que é, caramba, que aquele Fulano tem de especial? E qual será o encanto secreto da Beltrana? 

Vou contar o que ela vê nele: ela vê tudo o que não conseguiu ver no próprio pai, ela vê uma serenidade rara e isso é mais importante do que o Porsche que ele não tem, ela vê que ele se emociona com pequenos gestos e se revolta com injustiças, ela vê uma pinta no ombro esquerdo que estranhamente ninguém repara, ela vê que ele faz tudo para que ela fique contente, ela vê que os olhos dele franzem na hora de ler um livro e mesmo assim o teimoso não procura um oftalmologista, ela vê que ele erra, mas quando acerta, acerta em cheio, que ele parece um lorde numa mesa de restaurante mas é desajeitado pra se vestir, ela vê que ele não dá a mínima para comportamentos padrões, ela vê que ele é um sonhador incorrigível, ela o vê chorando, ela o vê nu, ela o vê no que ele tem de invisível para todos os outros. 

Agora vou contar o que ele vê nela: ele vê, sim, que o corpo dela não é nem de longe parecido com o da Daniella Cicarelli, mas vê que ela tem uma coxa roliça e uma boca que sorri mais para um lado do que para o outro, e vê que ela, do jeito que é, preenche todas as suas carências do passado, e vê que ela precisa dele e isso o faz sentir importante, e vê que ela até hoje não aprendeu a fazer um rabo-de-cavalo decente, mas faz um cafuné que deveria ser patenteado, e vê que ela boceja só de pensar na palavra bocejo e que faz parecer que é sempre primavera, de tanto que gosta de flores em casa, e ele vê que ela é tão insegura quanto ele e é humana como todos, vê que ela é livre e poderia estar com qualquer outra pessoa, mas é ao seu lado que está, e vê que ela se preocupa quando ele chega tarde e não se preocupa se ele não diz que
 a ama de 10 em 10 minutos, e por isso ele a ama mesmo que ninguém entenda."



Grifos meus.

Escolhas


O neto de um paciente meu me contou hoje que, ao ver quatro gerações de sua família atuando na área da saúde, tudo o que ele não quis, diferente de tantos exemplos em sua casa, foi ser médico ou dentista: graduou-se engenheiro naval, e hoje atua no mercado financeiro.

A conversa me fez pensar nos processos de escolha, e o quanto estamos cientes deles – ou não. Escolher implica em analisar as opções disponíveis, e optar por aquela que lhe pareça a melhor, a mais razoável, aquela cuja probabilidade de sucesso no futuro seja maior. Ou, no outro extremo, a que pareça que vai lhe causar menos incômodo ou a menor dor possível – quando se trata de uma questão difícil, e qualquer alternativa sabidamente causará sofrimento.

Os processos de escolhas podem ser também analisados à luz das religiões. Cada uma, conforme sua doutrina, discorre sobre o que podemos ou não escolher, e o quanto devemos agir de forma “autônoma” – assim mesmo, entre aspas, porque a questão da autonomia e do livre arbítrio também é pontuada de forma muito distinta pelos diversos olhares religiosos.

Para além dos inúmeros fatores que não controlamos, diariamente, em nossas vidas, acredito profundamente em nossa possibilidade de fazer escolhas – e acredito ainda que é nesta dádiva que reside nosso único e real poder sobre a própria vida. Cabe a mim escolher o que quero. Cabe a mim analisar com cuidado as opções disponíveis. Cabe a mim compreender tanto porque escolhi a, e, ao mesmo tempo, porque não escolhi b, c ou d. Não se trata de apenas saber porque se escolheu – tanto quanto, a questão é entender por quais razões não se escolheu.

É nesta minúscula ilha que reside nossa real possibilidade de ação. O mais em volta? Mar, oceano, onde iremos apenas navegar, ao sabor do vento, do sol, e de tantas intempéries.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Para ouvir


Desejo

Sexta-feira à noite...
É hora de fazer nossos desejos...


Quem é que não quer um amor?
"Sustentável", "bioagradável", bem temperado...


"Eu quero ter uma vida bioagradável com o meu amor
Consumir conscientemente o gozo e a dor
Ser uma composteira pra aproveitar melhor os restos
Me jogar no esquenta global
E viver na intensidade
Os dias que restam"



Amor Sustentável, Anelis Assumpção
no lindo Sou Suspeita, Estou Sujeita, Não sou Santa
(Síl, querida, amei todas...)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Natal


O Natal chegou hoje nesta casa. Ganhei de presente de um amigo querido uma árvore de Natal linda, de mesa, com laços de fita de cetim harmoniosamente coloridos, e uma bola grande, linda, também com laço (sim, eu amo fitas de cetim), decorada com um par de pequeninas rosas verdes e borboletas amarelas.

Pelos lugares que ando, tenho conversado com as pessoas sobre o Natal. Muitos, infelizmente, falam do Natal com uma certa tristeza, lembrando de pessoas queridas que se foram, ou lamentando que o “verdadeiro espírito” do Natal já se tenha perdido.

Sinto muita falta, também, dos queridos que já se foram, em especial da minha avó – que amava, muito, o Natal. Ainda assim, acredito e tenho esperança. Celebro cada dia deste mês com alegria, pensando que o espírito natalino só existirá se nós assim nos permitirmos, e o praticarmos, a todo o tempo.

Alegria, esperança, amor e cuidado... vieram junto com os meus presentes.
Alegria, esperança, amor e cuidado... é o que desejo e o que busco praticar, todos os dias, na vida.