terça-feira, 31 de maio de 2011

Paciência

Porque a gente precisa ter paciência com o tempo... com as pessoas que estão ao nosso redor... consigo próprio (fundamental!). Porque a gente precisa entender que nem tudo (ou a maior parte dos acontecimentos e fatos a nossa volta) não vai ocorrer como nós gostaríamos que acontecesse. Porque a gente precisa compreender que a vida tem um ritmo próprio, um fluxo específico, e às vezes o melhor de tudo é deixar simplesmente esse fluxo seguir, sem interferir...


Longe de querer lembrar de leitura auto-ajuda (nada contra quem gosta, mas este não é, definitivamente, o objetivo deste blog) pense apenas que você está no melhor lugar que poderia estar, agora. O que vai acontecer depois, veja bem, note o advérbio (eu amo advérbios...): você vai resolver depois.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Agora

Noite fria, agora.
Combina com um colo, um suspiro, um olhar, um silêncio.
Também um beijo.
E um sorriso.

Eu estou aqui.

Para ler ouvindo Relicário, Nando Reis, Nando Reis Ao Vivo - MTV.

domingo, 29 de maio de 2011

Reflexão

Depois de uma noite feliz em casa - sempre muito bom receber amigos – e do post “exatas”, inevitável: amanheci refletindo sobre o significado dos encontros em nossas vidas. A reflexão, antes de estar “resolvida” – talvez nem seja esse o propósito – fez crescer algumas indagações.

Quais são as decisões que afetam o rumo das nossas vidas? Do que nos acontece, o que de fato está sob o nosso controle? Algumas das pessoas que encontrei ontem fazem parte da minha vida há quase duas décadas... o que determinou nossos encontros, naquele lugar, naquele momento de nossas vidas? Hoje cada um de nós segue seu rumo... e há aqueles cujo rumo vai seguir em outros continentes...

Qual o valor de um encontro? Oito pessoas, cujas histórias se cruzaram umas com as outras... o mesmo instante: partilhando uma refeição comum. Mas ao serem perguntadas sobre qual a palavra exata para aquele momento... oito palavras tão diferentes, oito sensações tão distintas...

Longe de querer concluir qualquer reflexão, penso que somos mesmo muito complexos. E é isso que nos torna tão únicos, e nossa convivência tão rica.

sábado, 28 de maio de 2011

Exatas

Jantar para oito... oito pessoas em casa... oito palavras exatas.

Confusa: tantos assuntos ao mesmo tempo, todos desconexos... eu no meio de tantas pessoas, e não consigo interagir.

Volta: é bom estar de volta.

Vinho: estou ligeiramente bêbada.

Celebrar: é sempre bom.

Beijo: porque ela me negou um beijo.

Intimidade: do interfone ao prato limpo na blusa.

Filhos: façamos filhos agora.

Australopiteco: dos primórdios da humanidade até hoje, o melhor sentimento que existe é a amizade.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Expectativa

A expectativa pode ser doce ou amarga. Pode ser doce, daqueles que deixam na boca a lembrança boa de que haverá mais, algum dia. Se passar do tempo, vai ficar amarga. E a lembrança será fel, será amarga como quando exageramos e o corpo, depois, se esforça para dar conta.

Hoje o dia foi doce como papo de anjo, quindim, rocambole com doce de leite, chocolate, brigadeiro, doce de nozes, bolo mil folhas, suspiro, mel. Foi o doce que eu comi, ou será expectativa?

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ruído

O trânsito; o relatório por terminar; a reunião e seus desdobramentos; a ligação fora de hora; a refeição inacabada.

Há dias em que o ruído supera a harmonia. E você não consegue alcançar o silêncio e o recolhimento necessários para acolher, para perceber, para escrever. Descompasso... tantas coisas para contar... tantos ruídos, fazendo calar.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O que eu amo fazer


Ah... eu poderia dizer que o vídeo é um pouco longo, e pode ter sido piegas em alguns momentos. Mas, quer saber? Eu me emocionei, muito. Porque fala do que eu faço – e amo fazer – todo dia, todos os dias. E nós somos assim mesmo: amamos o que fazemos. A gente ama as pessoas, ama comunicar, e ama tornar possível que outras pessoas se comuniquem e vivam melhores.


Eu, emocionada e feliz.

Fatal

Para dar voz a minha (esquecida?) porção de jornalista...
A história, ou ainda, o relato abaixo é verdadeiro. Mas é óbvio que eu não vou entregar minha fonte e protagonista.

“Difícil, sabe? De repente a vida perdeu o rumo, sem mais nem menos. Um instante tolo, um gesto banal em um momento como outro qualquer, banal também. Mas que rende você e quando você se dá conta: já era, não é mais dono de si. As coisas ficam todas fora do lugar, você mesmo não sabe mais qual é o seu lugar, você não sabe o lugar de mais nada. Sua bússola parou de funcionar. Tudo o que você sabia sobre si próprio fica difuso, nublado, fora de foco. E é uma droga, porque muitas vezes o outro não está nem aí. Provocou um estardalhaço dos diabos na sua vida e continua lá, vivendo tudo absolutamente igual, todos os dias iguais. Na sua vida não resta nada igual, nada está como antes. E você fica sem parâmetro nenhum, sem saber o que fazer, nem como, nem quando. Parece uma droga que ativou o seu cérebro, e fica mandando impulsos descontrolados por todo o seu corpo. Parece mais que uma droga: parece uma doença que se instalou silenciosa, sorrateira, silente, e, no absurdo instante em que você se dá conta, já era: é quase o golpe final. Paixão é assim, uma doença. É terrível. É fatal.”

terça-feira, 24 de maio de 2011

Babilônia

Na Babilônia que é a área de desembarque internacional de um aeroporto, as pessoas, em um esforço para efetivar a comunicação, intuitivamente se lembram (da) e valorizam a linguagem não verbal – responsável por cerca de 70% do que comunicamos.

No dia-a-dia, é comum nos esquecermos dela. Mas não se engane: aquela sensação de que "não foi bem isso que ele/ ela me disse" ou ainda aquela vaga percepção do tipo "não sei, mas parece não ser exatamente isso", muito provavelmente têm raízes em uma divergência entre o que foi comunicado verbal e não verbalmente. Ao que eu pergunto: qual idioma é preciso falar para que as linguagens verbal e não verbal de interlocutores difíceis digam a mesma coisa?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Apraxia

Outro distúrbio de comunicação, outra definição possível...

Se você consultar um livro de fonoaudiologia, de neurologia, alguma publicação ou sítio confiável da área da saúde, vai saber que apraxia é um distúrbio que afeta a comunicação (estou pensando em uma apraxia verbal, ok?), de origem neurogênica, caracterizado por dificuldades na programação dos gestos motores da fala. Parece complicado? Pode parecer, mas não é – o sujeito tenta produzir os fonemas (os sons que, combinados, compõem a fala), mas não consegue fazê-lo – e não há comprometimentos musculares que justifiquem a dificuldade.

No dia-a-dia, poderíamos ilustrar a apraxia (ou dispraxia, conforme a severidade) descrevendo o momento pelo qual você tanto esperou, e tenta falar – mas não consegue. Não consegue falar nada do que tinha imaginado, não consegue falar ao menos parte do que tinha pensado, não consegue falar coisa alguma – nem mesmo comentar sobre o tempo ou o trânsito. Esse é a exata definição de um momento apráxico.

domingo, 22 de maio de 2011

Palavras

As palavras nunca são vazias, desprovidas de significado - mas seu uso inconseqüente pode torná-las desprovidas de valor. A raiz do problema não está então nas palavras em si, mas no uso que delas se faz. Trata-se de um evento circular: você quer se explicar porque está diante de um problema, e espera que as palavras possam ajudá-lo (já não disse Vygostky que "a linguagem estrutura o pensamento"?) Mas se você não faz bom uso das palavras, a força destas se volta contra você, e seu problema só faz aumentar.


O que era então uma questão viram duas: a questão inicial, acrescida do descrédito da sua tentativa primeira de solucioná-la. O silêncio pode ser mais efetivo nessas horas? Tentar se explicar de outra maneira pode ajudar? Tudo o que pode ser dito agora é: não sei. Há respostas que necessitam tempo para serem encontradas.


Sobre Vygostky: a afirmação acima foi uma anotação de aula, na qual lamentavelmente não registrei a referência completa. Para saber mais sobre este psicólogo e pensador, sugiro pesquisar aquiaqui ou aqui.

sábado, 21 de maio de 2011

Manhãs de sábado

O post de hoje foge a regra... porque não é uma palavra exata! Mas foi um texto escrito em 2002, e acho que cabe perfeitamente para o agora. Portanto, fica.

Para Sílvia, para Priscilla, e para todos os amigos com quem já compartilhei manhãs de sábado.

São coisas deliciosas, manhãs de sábado. Têm cheiros únicos, sabores novos, agradáveis ao paladar. Manhãs de sábado são sempre manhãs novas, coloridas, translúcidas, meninas pequenas vestidas de rosa aprendendo a bailar.

Os ares de uma manhã de sábado entram no corpo pelo nariz, pela boca, pelos olhos, por todos os poros, e a pele do corpo irradia luz. Ah, sábado! Manhas de uma manhã...

Manhãs de sábado devem ser vividas um pouco a sós. São pérolas pequenas, tesouros guardados no fundo do baú, há que se ter cuidado com quem dividi-las. Não pode ser com aquele amigo que, ao ouvir uma história, sempre terá outra melhor ou pior para contar. Manhãs de sábado não são para gananciosos, nem para apressados. A luz entra, lentamente, pelas frestas da janela, e a música dos ventos nas árvores, dos pássaros, na rádio, precisa acordar devagar.

Manhãs de sábado são para pulsar... São para brincar com a luz e as sombras, para lembrar as histórias da infância, para passear no parque. Lá, pode-se encontrar aquele amigo querido, especial, aquele que sabe o valor de uma paçoca de amendoim, de um silêncio prolongado no meio da história, o amigo que sabe falar, calar e ouvir, o amigo que sabe compartilhar, dividir.

Não é preciso que entenda de Química, mas deve ser capaz de diferenciar os cheiros de uma manhã de sábado. Não é nem mesmo preciso que saiba tudo o que se passa, nesse mundo tão vasto e escasso de manhãs de sábado, mas deve reconhecer sua ignorância e respeitar essa diversidade.

É preciso, sobretudo, que seja sensível — manhãs de sábado são meninas novas, tímidas, e não se mostram todas aos olhos de quem não saiba respeitá-las.

Manhãs de sábado são para lavar o rosto com água fria e despertar... E assim, desperto, assar o pão, coalhar o leite, e alimentar o corpo e a alma com a poesia dessas manhãs.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Instante

O verso de amor mais bonito
A canção repleta de harmonia
A intensidade sentida quando se cruzam os olhares

A beleza pode residir nisto tudo
e pode escolher ainda tantas outras moradas

Nada supera o instante
entretanto
em que o tempo e a verdade se encontram

e tudo fica claro
puro
recanto
água.

"Todos os sentimentos me tocam a alma" Maria Rita em A Festa, de Milton Nascimento.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Burilar

Ontem, ao escrever o “Paixão”, precisei burilar o pensamento, e recortar uma série de imagens que vieram, aos borbotões, junto com as lembranças dos livros e seus encantamentos. Não que as demais lembranças fossem menos importantes, não que não fossem igualmente – ou até mesmo mais – significativas. Mas foi preciso burilar, para que a escrita ficasse aprazível, para que eu não perdesse o foco, para que o conjunto fizesse sentido.

Pensei – e senti – hoje que devemos, na vida, tentar fazer algo semelhante. Precisamos burilar a própria vida, para que ela faça sentido. É preciso olhar o todo, e abarcá-lo – mas é preciso, tanto quanto, requintar alguns pontos, alguns momentos, algumas lembranças. Porque são esses pontos que darão um sentido maior ao todo, é esse burilar requintado e cuidadoso que vai enriquecer o todo, o amplo.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Paixão

Hoje o post é mais longo que o usual... mas falar de paixão e ser sucinta é paradoxo demais para mim...

O último compromisso do dia foi uma visita à Livraria Cultura, do Conjunto Nacional, para retirar o exemplar de um livro que eu havia reservado. Último compromisso do dia? Na Livraria Cultura? Delícia...

Retirei meu livro (literatura especializada, da qual gosto muito, sobre distúrbios de linguagem neurogênicos, mas é literatura especializada, ok?) e, óbvio, não iria me furtar de flanar um pouco naquele espaço do qual tanto gosto. Foi assim, à toa, que dei de cara com um exemplar de “Para viver um grande amor”, do Drummond. Delícia, de novo... “Não comerei da alface a verde pétala (…) sou animal onívoro...”

De Drummond para a palavra exata do dia foi um pulo: imediatamente me recordei do que entendo como o início da minha paixão por livros: minhas vivências na biblioteca da escola, quando eu cursava o antigo primeiro grau.

Sempre que podia, eu “escapava” das aulas – principalmente as de Educação Física – para a biblioteca. Nunca me dei bem nas quadras, e aproveitava a proximidade física destes espaços para me aventurar nas prateleiras recheadas de títulos, separadas por séries. Lamento que não tenha insistido nas aulas nas quadras – talvez tivesse hoje uma coordenação motora mais próxima do mínimo razoável – mas freqüentar a biblioteca com assiduidade foi algo que me marcou profundamente.

Sei que o que escrevo agora pode provocar alguma agitação entre os caros leitores deste blog, mas lembro que li poucos títulos da Série Vagalume, e gostei de um número ainda menor. Em contrapartida, li quase todos os títulos da encantadora série “Para gostar de ler” – gostei muitíssimo de todos que li, principalmente os volumes de contos e crônicas. Conheci Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e tantos outros autores assim.

Com as idas cada vez mais freqüentes à biblioteca, rapidamente passei dos títulos indicados para a minha série (5a. série) para as mais adiantadas. E foi assim que me encantei com “O Diário de Anne Frank”, “Eu, Cristiane F., 13 anos, drogada e prostituída”, “Feliz Ano Velho”, e os todos os exemplares de Machado de Assis que estavam por lá: de contos, Memórias Póstumas de Brás Cubas, e a história insuperável de Bentinho e Capitu – Dom Casmurro li quatro vezes, até a oitava série, e depois ainda mais... (Silvana T., Dom Casmurro com certeza é um bolo do qual sempre quero mais um pedaço).

Essa é a história do início da minha paixão por livros... ela continuou depois, no segundo grau, quando fiz amizade com os biblotecários da ETE Lauro Gomes e consegui passe livre para passear entre as prateleiras da bibloteca de lá... foi crescendo alimentada por passeios a sebos, e muitas outras livrarias e bibliotecas. As tecnologias de hoje permitem baixar livros com um simples clique na tela do computador – e acho que isso é também muito bom – mas a delícia de encontrar entre tantos títulos um que te encante e te faça suspirar... ah, isso é bom demais. Isso é apaixonante.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Silêncio, outra vez

Ontem faleceu o tio de um amigo muito querido – e, sem me dar conta, acabei postando normalmente (desculpe!). Hoje, eu silencio, e peço a Deus que console esses corações.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Fronteiras (?)

Essa é verdadeira.

Ele, destas terras brasileiras. Ela, holandesa. Ele, São Paulo. Ela, Amsterdã. Conheceram-se há pouco tempo, trabalhando. E, a despeito da distância física, a despeito da distância geográfica, a despeito das diferenças climáticas e idiomáticas... eles estão se falando todos os dias. O primeiro – e único, até agora – encontro ao vivo e em cores foi breve, mas definitivamente não foi fugaz.

Difícil não pensar em lugar-comum... mas, antes de decretar que “o amor não tem fronteiras” (desculpem-me, senhores!) prefiro pensar na disponibilidade mútua, porque só está acontecendo porque os dois se dispuseram. Prefiro pensar na coragem mútua, porque, além da disponibilidade, os dois foram corajosos o suficiente para assumir o interesse, e os riscos inerentes à essa decisão. Prefiro ainda pensar, de novo, na coragem, porque, ao assumir que você se interessa por alguém, você está explicitamente declarando sua incompletude, sua fragilidade – o que só reforça sua humanidade e grandeza interior.

Eles planejam se encontrar de novo – ao vivo – em breve. E eu vou ficar torcendo para que esse encontro seja mais um capítulo nessa bela história que, antes de findar, só começou...

domingo, 15 de maio de 2011

Placebo

Passou 6 dúzias de peças de roupa
Arrumou os livros na estante
Limpou a gaiola dos pássaros
Deu-lhes de comer e de beber
E também ao peixe e ao gato

Preparou a lista de afazeres da semana
Separou os livros ainda por ler
Ordenou os arquivos no micro
Respondeu as mensagens em aberto
Aparou as unhas, hidratou a tez

Por mais que tentasse
Nada surtia efeito
Nada aplacava a lenta
fúria do arrastar das horas
Agora?

sábado, 14 de maio de 2011

Desejo

Tenho querido andar por ruas que não têm nome...
Andar por praças e jardins desconhecidos...
Olhar pessoas estranhas, conversar com elas e descobrir o que vão me contar...
Estou querendo redescobrir o início de todas as coisas...
Pra ver se assim entendo o decorrer, a travessia, o chegar, o acabar...

Que a gente não saiba tudo, eu compreendo.
Mas também acho razoável que a gente queira saber mais.
Que a gente, mesmo sabendo, não compreenda
Mas que não se passe pela vida sem querê-la
inteira, plena,
soma de todos os nossos esforços,
de todas nossas experiências e percepções.
Mais.


Porque isso é tudo que eu tenho sentido...

Para conversar com o Pedido, de Noemi Jaffe.
Para ouvir: The Scientist, A Rush of blood to the head, Coldplay, e Chasing Cars, Eyes Open, Snow Patrol.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Sopa

Para os queridos Alex e Michelle.
Para o Marco, porque isso é nosso.

Sopa para aquecer a alma. Sopa para a gente sentar à mesa e ficar conversando bobagens, conversando sobre a vida, conversando coisas muito importantes e coisas sem importância alguma. Sopa para a gente discutir os problemas da humanidade. Sopa para a gente esquecer dos próprios problemas. Sopa para depois da sopa a gente decidir beber, ou decidir jogar, ou decidir continuar não fazendo nada. Sopa para esticar no sofá, dormir só um pouquinho, e depois continuar a conversar. Sopa porque hoje esfriou um pouco. Sopa para fazer carinho.

O que mais gosto de fazer são as sopas. Vaca atolada, sopa de fubá, sopa de abóbora com maracujá, sopa de beringela, sopa da mandioquinha com manga, sopa de coentro (…) A culinária leva a gente bem próximo das feiticeiras. Como a Babette (A festa de Babette) e a Tita (Como água para chocolate)..." (Correio Popular, Caderno C, 19/03/2000.) Rubem Alves, Cozinha, também disponível aqui.

Porque

Esse foi o texto para ontem, quinta, 12.

Porque tudo ficou aberto... porque nada foi decidido... porque tudo pode simplesmente acontecer... ou não. Porque nem tudo na vida a gente escolhe... porque você acha que controla as coisas, e depois que tropeça no nada e cai, ou então depois que uma telha se desprende do telhado no exato instante que precede o instante que você vai passar por lá, mas você se desvia um milésimo de segundo antes porque seus papéis caíram no chão, e se não fosse isso a telha caíria na sua cabeça, mas não caiu porque você foi pegar seus papéis, e você pensa por um instante que teria ficado com muita raiva por seus papéis molhados com a água da chuva, mas não ficou porque se deu conta que se não fosse isso a telha teria caído em cima de você, e aí você se dá conta de quanto o tudo é relativo, e de como, no fim das contas, a gente não controla nada, absolutamente nada, nunca.

Exata

Esse foi postado na quarta, dia 11. Espero que tenha sido esse... não gosto de reescrever textos, eles nunca mais são os mesmos... ah!

Qual é a palavra exata para este instante? Para este, que escrevo: agora? E para este, que você lê? É "depois do agora"? Mas não é agora, também?

Qual é a palavra exata que pode unir o meu momento (da escrita), e o seu, da leitura? Que palavra vai unir nossos "agoras"?

Suave. Destino. Beijo. Sensação (o chocolate? Pode ser, se você quiser). Melancolia. Festinação. Absorção. Microaspiração.
Pusilânime (precisa coragem para dizer "Você é pusilânime!"). Transfusão. Estrépito. Mini-saia. Pantalona. Jeans. Vermelho. Preto. Algodão. Veludo (o gosto e o gesto da sinestesia). Flocos de milho. Reflexo. Espelho. (Cons) ciência (Você está realmente ciente de si? Do que quer?)
Flauta. Música. Harmonia. Corrida. Transpiração. Tênis. Fixação. Monotonia. Atenção.
Peripécia. Abracadabra. Perseguição. Remo. Rumor. Riso. Motivação.
Elo. Laço. Tempero. Picante. Comida. Colher (o talher). Colher (o verbo).
Saponáceo. Glicerina. Periclitante. Ruibarbo (tão bonito dizer "xarope de ruibarbo"). Factual. Fenomenal. Intangível. Suspiro. Sensual. Suave (sim, de novo). Toque. Especial.
Eu. Você. Nós? Vinho. Sal. Marinho. Abstinência. Absolvição. Esqueleto (o seu está ereto? Você tem um no armário?). Culpabilidade.
Saber. Sabor. Tempo. Fuga (“Tempus fugit”). Semântica. Língua. Linguagem. Racional. Racional?
Remanso. Recanto. Estuário. Água. Oceano. Natural.
Curioso. Tato. Sexo. Visual. Milímetro. Decilitro. Imbricado. Tempestade. Riqueza. Risada. Físico. Mental (onde tudo acontece, afinal).

Aviso aos navegantes

Uau! Eu não sei dizer exatamente o que foi que aconteceu com o blogger... sei que ontem não consegui postar nada, e, ao abrir agora, não encontrei também o post da última quarta-feira: Exata. E, óbvio: sempre tenho comigo uma versão final do que publico, mas não deste. Não sei se vou conseguir recuperá-lo tal como foi postado em 12/05 (e olha que este foi um dos posts que mais gostei, até agora).

A palavra exata para este momento? Exausta, é como estou (ainda que esteja bem). Voltem mais tarde... vou recuperar o "Exata", vou postar o texto que seria de ontem, e o de hoje também. O dia promete...

Sorrisos ligeiramente cansados...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Sublimar

Marcus, querido, muito obrigada!

Sublimar: “tornar sublime o objeto alvo de sua ação”. É ato dos mais grandiosos e belos que se pode exercer na vida. Por esse exato motivo, há que se ter cuidado. A gente precisa sublimar a própria vida; precisa sublimar as pessoas queridas; precisa sublimar nosso trabalho, nosso dia – para que se tenha graça. Mas nada de sublimar problemas; nada de sublimar expectativas; nada de sublimar o que ou quem não se conhece bem. Não se trata de se acovardar – trata-se, apenas, de tentar, com o olhar sempre enviesado pelas nossas experiências e percepções, enxergar as coisas o mais próximo do que elas realmente são, dar-lhes apenas – e tão somente – o exato valor – que já não é pequeno, normalmente.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Afasia

Outras definições possíveis...

Em saúde, afasia é um distúrbio de linguagem neurogênico, que acomete principalmente pessoas que tiveram um AVC, em áreas corticais que são importantes para o funcionamento da comunicação humana (na imensa maioria dos casos, o AVC terá ocorrido no hemisfério esquerdo do cérebro, que, via de regra, é o hemisfério dominante da linguagem).

Para além das definições de saúde e doença, na vida, pode-se dizer que uma das manifestações afásicas é quando você tenta dizer algo, mas lhe foge a palavra. Quando você tenta organizar seu discurso, mas ele sai mínimo, quase agramatical. Ou então, afásico (neste caso, com predomínio de comprometimento da compreensão) é o sujeito que ouve a sua mensagem, mas responde algo que não tem nada a ver com o que você perguntou – ele fala, fala, fala, e você continua na mesma: sem saber de nada. Ele, um sujeito logorréico. E você? Você fica se perguntando se está sofrendo de algum distúrbio de comunicação...

Para compartilhar

Ando apaixonada... pelo Eduardo Giannetti (grifos do autor):

"Pior que o simples desconhecimento (...), é a ignorância potenciada de uma falsa certeza – o acreditar convicto de quem está seguro de que sabe o que desconhece. Abrir-se à dúvida radical – à possibilidade de que estejamos seriamente enganados sobre nós mesmos e sobre nossas crenças, paixões e valores que nos regem – é abrir-se à oportunidade de rever e avançar. É ousar saber quem se é para poder repensar a vida e tornar-se quem se pode ser." (pág. 11)
In Auto-engano, Cia. de Bolso – Cia. das Letras, 2007.

domingo, 8 de maio de 2011

Materno

Para todas nós, mulheres

Sou uma apreciadora de propagandas. Confesso que não gostei muito das que vi esse ano por ocasião do Dia das Mães. E não é porque eu não sou mãe – ainda não decidi se serei ou não. Mas é porque acho que “materno” é uma qualidade indissociável do feminino. Não é preciso ser mãe para ser materna. Nós, mulheres, somos maternas. Fato. Talvez seja algo genético, do duplo X.

Nós somos fortes. Nós somos inteiras. Nós vivemos nossas vidas plenamente. Nós não temos medo de ficar sozinhas. E, a despeito de toda essa fortaleza, nós somos delicadas. Sabemos conciliar nossa fortaleza e nossa fragilidade para que o homem que vive – ou não – ao nosso lado sinta-se potente – afinal, ele é o homem.

Nós geramos os filhos, se quisermos tê-los. Nós cuidamos de nós mesmas, de nossos irmãos e irmãs, de nossos avós e nossos pais, de quem escolhemos para termos ao nosso lado. Acolhemos e cuidamos de nossos amigos. E assumimos com naturalidade, sem receios, quando precisamos ser cuidadas.

Como disse o Welington em sua linda homenagem às mães, “anjos em forma de gente” – concordo com ele, mas acredito que, sim, somos anjos, nós, mulheres, com ou sem filhos.

Por isso desejo hoje, para todas nós, mulheres, maternas, sim, que tenhamos um dia muito feliz. Pleno. Como merecemos viver.

sábado, 7 de maio de 2011

Peremptório

That's enough. Enough now.

Acordou de sobressalto, o coração aos pulos. No sonho premonitório, a verdade desnuda:

"Eu sinto muito se você não sabe amar".

Hoje dedico a mim a beleza das minhas palavras, a melodia das músicas que gosto, o meu silêncio e o meu olhar.

Para ouvir: Depois do Perigo, Acesso, Zélia Duncan ou A Montanha Mágica, Música para Acampamentos, Legião Urbana. Ou o que você quiser...

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Simples

Quando você dirige por uma estrada, e já passou por lá, e sabe qual é o seu destino, é simples. Quando você vai preparar uma receita, e tem todos os ingredientes à sua disposição, e já conhece a forma de preparo, todos os cuidados necessários, é simples. Quando você vai a uma reunião no seu trabalho, e vai falar sobre um projeto que já está em andamento – ok, você precisa preparar os dados, se organizar, mas é relativamente simples. Quando você sai de sua casa pela manhã, e já sabe tudo o que vai encontrar pelo dia, e tudo corre absolutamente como esperado: é simples.

Quando você decide, mas não depende só de você. Quando você não tem praticamente nenhum dado nas mãos. Quando você está uma sala de espera, enquanto outras pessoas decidem sobre o seu futuro na sala contigua, e você pensa que já fez tudo o que poderia, mas na verdade você não fez quase nada – porque às vezes nada (!) é a única coisa que pode ser feita. Nessas horas não é simples. Definitivamente, não é simples.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Contrários

Outra versão igualmente possível... e absolutamente verdadeira

O dia amanheceu ensolarado. A roupa ficou boa – e foi observada e elogiada mais de uma vez. Não houve incidentes no trajeto. No ipod, as músicas preferidas. O curso, altamente proveitoso. O almoço foi bem servido. Não faltou saúde, disposição, água ou energia. À noite, o jantar estava pronto – e saboroso.

O mundo e todos os seus contrários – o dia todo, espanto e decepção.

Para compartilhar

Usei esta citação no meu TCC da graduação – hoje ela ecoa especialmente verdadeira:
"Fale, para que eu te veja"   Sócrates

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Contrários

O dia não amanheceu ensolarado. Não era feriado. A roupa não ficou boa. Na rádio, só músicas chatas. O almoço foi apressado. O caixa deu o troco errado. O ônibus não parou no ponto certo. Faltou a marca preferida no supermercado. O tempero não estava pronto. A massa não ficou al dente. O vinho, regular.

O mundo e todos os seus contrários. O dia todo, foi só sorrisos.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Céu

Tive a ventura de olhar para o céu, hoje, durante o crepúsculo. Ele me encantou com os tons de vermelho, laranja, amarelo e azuis em degradê. Mais acima, as nuvens caminhavam. Passos lentos e precisos, iam na direção oposta à linha do horizonte.

Sempre gostei de olhar para o céu. A época em que mais me deixei enamorar por ele – e pelos crepúsculos – foi durante o colegial, porque nesse horário estava indo para a escola, e ficava lá, no tróleibus, com os olhos perdidos nas alturas celestes. O céu sempre me contou segredos, e ouviu paciente os meus.

Cresci, e não namoro mais o céu como antigamente. Mas, junto com o crepúsculo que ele me deu de presente hoje, veio o vento, murmurando em meus ouvidos que ele ainda está ali, a minha espera – basta eu querer ir... basta eu deixar me enamorar, de novo.

Porque a gente já passou dos 1000...

Propaganda barata?! Não, não, é para compartilhar e sorrir, mesmo...
O blog passou dos 1000 acessos no último domingo, primeiro de maio, 38 dias depois de "nascido". Bom, não é?
Se estou feliz? Estou. Se estou gostando? Muito. Se há o que escrever? Muito, muitíssimo. Espero que vocês também estejam felizes, gostando, e querendo ler mais.
Meus sinceros agradecimentos aos navegantes... e que a gente continue pela vida, "pelo mar" afora...


Eu, contente!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Silêncio, outra vez

Hoje, pela manhã, uma amiga querida velou o corpo de sua mãe. Que essas pessoas possam encontrar conforto, em meio à dor.
Meus sentimentos, meu silêncio, e até amanhã.

domingo, 1 de maio de 2011

Conforme

Dias desses, ouvi duas mulheres, em duas situações distintas, falando sobre outras duas mulheres. Confesso que me assustei.

Porque eu também não sou conforme.

Não fui medida na forma... não estou de acordo... não respeito as medidas, não sei entrar em conformidade... não faço porque precisa ser feito – faço porque sinto, e porque faz sentido, sobretudo. Respeito todo e qualquer ser vivo à minha volta – eu própria, inclusive, e sobretudo.

Não sei ser conforme. E, sinceramente? Não quero nunca sequer aprender a ser.


"Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem..."
Senhas, Adriana Calcanhotto, Perfil