sábado, 29 de outubro de 2011

Desejo

Eu te desejo...

entendimento.
Esclarecimento.
Compreensão.
Sentido.

Quietude.
Sossego.
Amor.
Aconchego.

Que sua vida seja plena. Que você seja muito feliz, muito feliz. Que sua mente encontre descanso.

Que seu coração encontre abrigo, e, sua alma, paz.

Fruto


Para sexta, 28 de outubro.

O sumo do fruto adoçou os lábios. Escorreu pelos dedos e pelas palmas da mão... penetrou nas papilas gustativas, na derme, e algum elemento de sua substância fez mais que ativar os nervos sensoriais.

Estímulo elétrico pelos nervos cranianos e pela espinha, de lá para o cérebro, sinapse e resposta, para todo o corpo. Nariz, boca, estômago. Boca, coração, ouvido. Nuca, cabelo, boca. Boca, dedos, quadril.

E o fruto transfigurou o corpo. O corpo tornou-se fruto. Fruto verde, sumarento, adocicado. Fruto corpo, corpo fruto, fruto vivo.


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Solilóquio


Ele conversava animadamente consigo mesmo. Sentado em um banco do metrô, seguia viagem na linha azul. Falou sobre o tempo; depois protestou sobre o aumento de preço de um item alimentício; logo após, enveredou em num discurso inflamado sobre questões filosóficas e religiosas.

As pessoas olhavam, com espanto e curiosidade. Algumas eram discretas, outras não disfarçavam e olhavam sem pudor.

Ele então se levantou. Suas roupas eram simples e puídas. Ao se aproximar da porta do vagão, viu seu reflexo, e seu solilóquio ficou ainda mais intenso, com direito a gesticulações variadas, para as quais seu interlocutor respondia com a mesma força.

Ao chegar na estação, saltou do trem. Deixou muitos expectadores sem respostas, diante dos mistérios da existência.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Lágrimas

Ela estava sentada em um banco, nos jardins da Santa Casa, no fim da tarde. A luz do sol banhava seus cabelos, e sua face, fazendo brilhar as lágrimas que rolavam.

Por que ela chorava? Eu não tive coragem de me aproximar mais e lhe perguntar. Aquela cena era insolitamente triste, e bela. Aquela mulher, com o vestido florido largo anunciando sua gravidez, chorava copiosamente. Pela doença de alguém? Por que ela tinha perdido alguém? O que lhe teria acontecido?

Em silêncio, retardei meu passo, desejando poder consolá-la. Então a vida, que, a cada dia, me encanta, de novo me ensinou que nós, adultos, às vezes perdemos a sabedoria, ao crescer. Uma pequena garota que passava, de mãos dadas com uma mulher - sua mãe? - soltou sua mão, correu em direção à mulher que chorava, e pousou sua pequenina mão sobre o colo daquela mulher.

Choramos todas nós, àquela hora. Eu, a mãe daquela criança, e a mulher no banco, que, agora, também sorria. Nesse instante, lembrei da Letícia, minha querida, que, dias desses, me disse: "Calma, tia! O seu choro também vai passar."

Que as lágrimas venham, e passem. Eu vou ficar calma, e esperar. Eu vou lembrar da criança que vi hoje, e do que a sábia Letícia, do alto dos seus 8 anos, me disse.

"Será que temos esse tempo, pra perder?
... A vida é tão rara..."

Lenine, Paciência.


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Canção

A palavra exata hoje está assim, derramada...


Olhos


ou Nunca – a palavra exata para 24 de outubro, segunda-feira.

Porque os olhos brilharam mais... foi a luz do sol? Foi só a luz do sol, na linda manhã? Ou foi por que você olhava para mim?

E porque falar, naquele momento, era supérfluo. Desnecessário. O instante já era pleno. O silêncio, eloqüente. Respeita o silêncio, e olha. Olha, sobretudo.

E porque, depois, você disse que nunca iria se cansar. Nunca? Nunca, mesmo? Nessa hora choveu, choveu uma chuva forte e bonita, e eu fiquei pensando se naquela hora os seus olhos estariam brilhando também.

Porque o seu olhar encontrou o meu olhar, e porque você nunca vai se cansar, fecha os olhos, agora. Respira. E toca, bem de leve, o futuro.

Porque hoje eu me lembrei do lindo Janela da Alma. É possível assisti-lo aqui.

Minas


ou Ciclo - a sensação exata para minhas férias.


Fui para Minas, terra da minha mãe, da minha avó, da minha bisavó, terra da minha querida Letícia, me refazer. Fui para Minas para (re) nascer.

A vida, bondosa e gentil, não me mimou apenas com queijos e doces. A vida me colocou em Poços de Caldas, perto da casa da minha bisavó. A vida me fez passar pela praça onde a bandinha toca à noite no coreto. E me fez passar também pela Rua Assis e pela Rua Rio de Janeiro, e pela Rua São Paulo. A vida fez meu coração transbordar os sentimentos e brotar lágrimas nos olhos.

Depois, em Campestre, a vida me fez decidir caminhos, sozinha na estrada de terra. Direita ou esquerda? Morro acima, ou morro abaixo? Enfrento aquela vaca imensa, com chifres, mugindo e vindo em minha direção (ai, meu Deus!), só para chegar onde eu havia planejado, ou saio pela tangente, mudo o rumo?

Um dia depois, a vida de novo me encanta... e aí eu descubro que as amoras, maduras, também podem ser da cor verde (!), e deliciosas... lembrei de Piaget, e pensei que, naquele instante, eu estava em um processo de assimilação, para depois equilibrar tudo, sensorial e epistemologicamente.

O quanto da vida nós não sabemos? Quais são os sabores que não conhecemos? O quanto a vida nos surpreende? Quanto há, ainda, por saber?

Vida... deliciosa, surpreendente... fruto inacabado. Fruto verde.

Em tudo há um sentido.” – fala do personagem Jin, em Um Conto Chinês.


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Aviso aos navegantes

Caros leitores virtuais:

Vou fazer uma curta viagem... volto em 24 de outubro, cheia de palavras exatas temperadas com os doces ares de Minas Gerais.

Até a volta!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Imperativo

Do pão, uma fatia.
Da massa e do doce, uma porção.
Do vinho, uma taça. Duas taças. Meia garrafa. Uma garrafa. Pode?
Um comprimido para a enxaqueca. Mais silêncio e escuridão.
Do chocolate, uma mordida.
Uma palavra para a chegada. Outra para a partida.


Da vida?
A vida?
Essa, só inteira.
Saboreada lenta. Vagarosa. Deliciosamente.
Íntegra. Com todas as dores, cores, sabores e amores.
Total.
Plena.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Vislumbre

Os ventos sopram uma suave brisa noturna. Lá fora, faz frio. A casa está aquecida. Há sabores e cores na cozinha. Dentro de casa, não há tantos ruídos como lá fora. Mas é possível distinguir alguma música, barulhos na cozinha, e conversas.

As conversas são sempre importantes. Não importa o tema. As coisas grandes e pequenas, o preço do açúcar, a marca do azeite, a melhor folha para a salada, o projeto, as exceções, o emprego novo, o futuro, a viagem, os filhos.

A vida lá fora, a vida dentro de casa. O vislumbre da vida que se quer. O vislumbre da vida que será.

Porque hoje a vida me tocou.

Cápsulas

Para viver bem, reduzir enxaquecas, dores de estômago, ansiedade, depressão, mau humor. Para sorrir e cantar sem motivos aparentes. Para suspirar, para brilhar. Simples assim:

Pela manhã, em jejum, a primeira.

Outra ao final do dia, para adormecer bem.

Recomenda-se eventualmente uma alteração na rotina e na posologia, com uma terceira dose, ao longo do dia.

Fundamental a prática de exercícios físicos e a adoção de dieta balanceada para melhor efeito.

Esconderijo

A palavra exata gerada segunda-feira, 17 de outubro, nasceu agora.


Nem sempre se pode gritar. Às vezes não podemos, sequer, falar.

Guarda então as palavras – as que não foram ditas, as que esperam ser ouvidas – no mais recôndito do teu ser. Esconde-as bem, até de ti mesmo.

Hão de ficar prontas... elas então descobrirão, sozinhas – acredite! – qual caminho trilhar.

domingo, 16 de outubro de 2011

Dor

Lá fora, chove. Respingos de chuva na janela. Abro-a, e deixo o vento entrar.

Hoje os sinos não badalaram. Olho em volta e não encontro verso algum que dê conta do que me vai pela alma.

Cadê minha voz? Onde guardaram as palavras? Há palavras soltas pela sala... encontro cheiros e gostos na cozinha. Onde estão as palavras exatas?

As lágrimas embotaram minha visão.

E não há mais nada que se possa fazer.

Está feito.

A maior tristeza do mundo.

Cadê você?

Cadê minha voz? Eu queria gritar, mas minha voz não sai.

Calada, deixo tudo aflorar. A maior tristeza do mundo.

A dor mais triste do mundo.

Estou só.

sábado, 15 de outubro de 2011

Para compartilhar

Tom, querido, obrigada!


"O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra."


Guimarães Rosa

Clarividente


A sala está vazia. Os armários, desocupados. De repente, tantas coisas que estavam guardadas e já não eram mais usadas, jogadas fora.

Ouve-se o silêncio de todas as coisas. O silêncio reverbera n'alma. E, no fundo, bem lá no fundo... um som, um olhar, um toque, um cheiro, um gosto. Os sentidos aguçam. E as respostas para as perguntas, antes caladas – é preciso coragem para fazer certas perguntas... começam a surgir.

"Vou nascer de novo."
Pra você guardei o amor, Nando Reis e Ana Cañas.

Exatas

Essa proposta já apareceu por aqui antes... mas aí de mim! Quase impossível obter as palavras exatas e suas respectivas frases entre onze pessoas discutindo tudo sobre a vida. Incrível trabalho de coleta de material... e, sim, os autores bem entenderam que a palavra exata não deveria necessariamente aparecer explícita na frase... direto da casa de amigos queridos, que nos receberam com muito carinho e cuidado, eis o resultado final: doze palavras exatas, treze frases, por onze convidados... e haja matemática depois de tanto vinho...

Amizade
A cozinha é o melhor lugar para estar na casa.

Carrasco
A vida me consome.

Pauta
Amigo jornalista não pede pauta para outro amigo jornalista.

Fadiga
Eu me recuso a pensar.

Maternidade
Ser mãe vale tudo – inclusive levar um banho de leite numa festa.

Transformação
Nas pessoas mais quietas estão as mentes mais barulhentas.

Felicidade
Com as pessoas certas, no momento certo, do jeito certo, estou feliz.

Aforismo
A busca pela idéia perfeita é apenas uma palavra, aquela que não sabemos.

Brasil
O Brasil sim, é um gorro lilás, de colete camafeu, subindo a ladeira e buzinando muito.

Paz
A busca eterna.

Sabores
A fome e o amor movem o mundo.” (Schiller, poeta e filósofo alemão, citado por Câmara Cascudo em A história da alimentação no Brasil).

Múltiplas
Amou. Bebeu. Escutou. Sorriu. Calou. E foi feliz.

Múltiplas (versão 2)
Sexo. Vinho Verde. Saussure. Semiótica. Viagens. Mudança. Perspectiva. Novidade.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Quinze

Carinho.
Amor.
Sexo.
Paixão.


Amizade.
Sacrifício.
Compreensão.


Espera.
Compromisso.
Construção.


Zelo.
Espaço.
Apoio.
Cuidado.
Superação.


" (...) Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."

Vinícius de Moraes in Soneto de Fidelidade.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Lapso

Trazia nos dedos a memória do toque. Nos lábios, a memória do beijo. Bem perto, a memória do cheiro. Fechou os olhos para recuperar, como num instantâneo, não apenas fragmentos, mas todo o momento.

Traiçoeira, a memória falhou neste instante. E, uma vez mais, o coração doeu.

"(...) Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações
Coração de ninguém."

Fernando Pessoa, in Cancioneiro.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Tentativa


Não, hoje não me faltaram palavras exatas... por falta de uma, essa é a terceira. Ainda que tenha gostado dos outros dois textos, leio e releio e penso que não transmitem, com exatidão, a síntese deste dia.

Ocorreu-me então que tudo, nesta vida, é tentativa. Tentativa de ser feliz, tentativa de fazer a escolha certa –  inclusive da palavra exata –  tentativa de fazer dar certo. Se formos éticos... Se formos íntegros... se tentarmos, tanto quanto possível, respeitar nossos sentimentos e nossos princípios... o que nós somos além disto? O que nós somos além das nossas verdades, e dos atos que as refletem? Se soubermos – e falarmos – sobre o que nos alegra, e sobre o que nos machuca... Se conseguirmos respeitar o próximo mas – fundamental – também nós mesmos... afinal, se não estivermos inteiros, como conseguiremos nos doar?

Tentar viver isto tudo não garante o sucesso de coisa alguma – eu já disse antes que não acredito em auto-ajuda... Mas penso que seremos mais autênticos, mais felizes, mais inteiros. E essa é, certamente, uma tentativa que vale a pena.

Enquanto eu ouvia Ilusión, com Julieta Venegas e Marisa Monte.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Para compartilhar


Madredeus, As Ilhas dos Açores.

Para começar bem o meu primeiro dia de férias (mágica palavra exata...)
Uma música que amo profundamente.

Exílio

Para domingo, 09 de outubro de 2011.

Alguns momentos são cruciais, nesta nossa curta trajetória. Talvez o mais crucial deles seja quando sua alma sente-se exilada.

Sou estrangeira morando em meu próprio país. Minha linguagem, minha cultura, minha experiência prévia... nem sempre dão conta. Minha alma mora agora em algum lugar - dentro de mim? Ainda está aqui? - não a encontro mais, inteira. São apenas fragmentos. O vislumbre da impermanência, a fragilidade da incompletude, a expectativa.

Faltam-me palavras... falo apenas o que posso, não o que quero.

"Quimera a que não se pode renunciar
o paraíso acaso será?"

Desconheço o autor.
(frase exposta na estação Paraíso do Metrô)

sábado, 8 de outubro de 2011

Sonho

Acordou. Checou o relógio: 5h51. Ouviu o dia amanhecer, com o som dos pássaros bem perto da janela. Espreguiçou e sorriu. Pensava no dia anterior... e no que havia planejado para aquele que, aos poucos, começava.

Deu-se conta, então, que sonhara. Nos labirintos da mente, passado e presente se confundiram... miscelânea de imagens e, sobretudo, de sentimentos, naquele enredo que a mente engendrou. Suave, o sono veio de novo. E, uma vez mais, sonhou. Mas agora, tampouco era passado, ou presente. Era o futuro que batia à porta.

Sonhos, sonhos... o quanto falam por nós?

"O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte
Os beijos merecidos da Verdade."

Fernando Pessoa, Horizonte.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

200


Entre histórias reais – e outras nem tanto, que ficção também faz bem... por entre músicas e outros textos que me falaram ao coração – ou que por mim falaram, quando me faltou a palavra... entre textos guardados há tempos no fundo da gaveta, e a palavra exata encontrada na última hora do dia... esse é o post de número 200.

Ducentésimo post... escrever é um prazer, uma dor, e uma alegria. É sempre uma experiência que transcende o racional. Difícil atividade metalingüística, propor-se escrever sobre a escrita.

Mais pessoal que nunca, o que de fato posso dizer? Que nunca falte tinta, à pena da minha alma. Minhas palavras são costuradas assim... com a matéria-prima essencial – vida.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Para compartilhar

O Flávio postou no face (obrigada!), mas eu quis compartilhar aqui...

Porque não se pode esquecer...


"Não há razão para não seguir o seu coração. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração." Steve Jobs (1955-2011)

Imperfeições

"São as imperfeições que nos tornam únicos, que nos tornam humanos" - é o que ouve Andrew, personagem de Robin Williams, no filme O Homem Bicentenário, quando encontra Oliver Platt, o cientista que o ajudará a finalmente tornar-se humano.

São as minhas (muitas, diga-se de passagem) imperfeições que me tornam única. Algumas, para minha (não mais íntima) alegria são atávicas. Acho que é essa a razão pela qual eu e minha avó brigávamos tanto. Tive a honra de conviver por muito tempo com uma mulher mais que especial, que moldou meu caráter e, ainda que ela não tenha querido (será que não?), me ensinou a ser, sim, muito brava, a lutar por tudo o que vale a pena, a esbravejar se for preciso, em nome daquilo que acredito. Talvez já tenha escrito isso em algum momento, mas o fato é que briguei com e pela minha avó em muitos momentos, até o fim da vida dela. E não me arrependo disso, não mesmo. Toda vez que olhava dentro dos olhos dela (castanho-esverdeados, que eu também herdei, que coisa boa!) sabia que estava fazendo a coisa certa.

São os seus defeitos que o tornam quem você é, que o tornam único. Repare bem: eu, você, todos ao nosso redor... todos temos nossas imperfeições. Compreender suas origens pode ser enriquecedor... será que algo que você carrega é um traço de caráter do seu avô, de uma tia, ou de seu pai? Saber o que se pode tolerar, em si mesmo e no outro, e o que não se aceita, é a questão que se impõe. Conviver (consigo mesmo e com o outro) pede a prática da tolerância, continuamente.


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Revelação


Ainda que não tivesse corrido, ainda que não tivesse nadado... não, não tinha feito nenhum esforço físico. Ainda assim, o peito arfava. Era quase dor, pulsando sob a pele.

Hesitou. Temia tanta coisa. O tempo, a história, o passado, o futuro. Acreditaria? Seria possível? Seria verdade?

O que era quase dor, doeu de verdade. Latejou. Sem mais poder ficar calada, falou. Palavra por palavra, revelou tudo o que lhe passava na alma.

Seus olhos então se abriram – a verdade revelada.

Não era dor, latejando. Era amor. É amor.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Transcendência

Ele hesitou, mas acabou passando pela porta. E não, não foi o fim de sua vida. Aquela porta significava, sim, o fim, mas de um ciclo. Ao passar pela porta, ele alcançou entendimento. Transcendência. Compreendeu seu passado, ratificou suas escolhas no tempo presente, e seus dedos tatearam, agora sem medo, seu futuro.

A vida, e seus tantos sentidos. Vislumbrou que tudo era mais. Agora, ele sabia.

Porque hoje A Árvore da Vida novamente me inspirou.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Encanto


Palavras me encantam. Palavras me impressionam pelo poder nelas contido... pelo tanto que podem representar... impressiona-me como um conjunto ordenado de fonemas, por sua vez ordenado em frases, por sua vez em períodos e estes em histórias – e viva a sintaxe e a gramática, a semântica, a pragmática e tudo o mais que torna a língua viva... como podem construir e destruir, como podem fazer sorrir ou chorar quem as recebe.

Quanta beleza e quanta tristeza podem causar, as palavras... Quanto nos podem provocar... Hoje mesmo, em duas situações distintas, as palavras foram meu passaporte para outros tempos.

Pela manhã, um paciente, afásico, contou-me sua história (e me permitiu que fosse aqui mencionado, vale dizer). E nela... quantas imagens intensas, quantas saudades do passado, tantas histórias de vida... Eu me encantei.

Ao fim do dia, novamente as palavras foram meu passaporte, em uma viagem de volta ao passado, e deste para o futuro... quanta verdade e quanto sentimento! Tão poucas palavras contendo uma força tão grande! Quanta paixão, quanta vontade de viver. De novo, uma vez mais, eu me encantei. E ainda estou, encantada.

Palavras, palavras... mais do que viajar no tempo, hoje elas me transportaram para o céu. E, de lá, eu ainda não voltei.

domingo, 2 de outubro de 2011

Prisma


Nunca a expressão "é um filme para ser visto" fez tanto sentido para mim. A Árvore da Vida é um filme para ser visto, sobretudo. Terrence Malick faz uso de imagens deslumbrantes para, como um prisma, decompor e defender suas opiniões: para ele, Deus existe, e a vida, em todas as suas formas, é a prova disso. Vida, em constante fluxo de permanente mudança, é a prova da Divina existência.

Ainda assim, sua visão de Deus é muito particular. Nada de acreditar que nós, seres humanos, somos superiores aos demais seres viventes na terra. Nada disso. Nós somos, no máximo, tanto quanto. Tanto quanto as árvores, os insetos, tanto quanto a água, a luz e o magma, tanto quanto a areia no deserto e os ventos que nela criam desenhos.

A questão não passa por ser merecedor do que lhe ocorre – seja o fato bom ou mau. No fim das contas, não importa se você escolheu o que ele pontuou como o caminho da graça ou o caminho da natureza. A questão é entender que graça e natureza se complementam – e que elas irão atuar em sua vida a todo tempo, o tempo todo.

E o que resta, afinal, para nós, humanos? Qual o sentido de tudo? Em meio a imagens grandiosas da vida e silêncios eloqüentes, salta uma fala, fervorosa e contundente: "a menos que você ame, sua vida passará rapidamente".


Sutil


Comecei a dirigir e não liguei o rádio, tampouco o ar condicionado. Abri as janelas para deixar o ar entrar e ventilar. A luz do sol filtrou a paisagem e criou desenhos sinuosos no chão. O vento entrando pela janela do carro me contou que mais tarde iria chover...

Às vezes nada como dar-se conta da impermanência de todas as coisas na vida. Às vezes nada como reduzir os estímulos para perceber o sutil, o essencial. Ar nos pulmões, a vida entrando pelos sentidos e pulsando nas vísceras, veias e artérias. Isso é o essencial, e é tudo que sutilmente preciso.


E vou contar esta história para provar que sou sublime.”
Fernando Pessoa, por seu heterônimo Álvaro de Campos, em Tabacaria,
com uma mínima adaptação desta que vos escreve.



sábado, 1 de outubro de 2011