sábado, 9 de abril de 2011

Pedro

Essa é verdadeira...
E o nome pode ser Pedro, João, José... o negócio é contar a história.

Eu gosto muito de histórias – tanto de contá-las como de ouvi-las. Aliás, gostar é pouco. Sou apaixonada. Pelas histórias e pelas pessoas. Isso certamente influenciou minhas escolhas profissionais, ou, mais do que isso, minhas escolhas de vida – me dói na alma ver alguém destituído do posto de protagonista e, sobretudo, narrador da própria história. Mas essa não é a história... não a de agora.

Conheci o seu Pedro numa tarde ensolarada, numa estação de metrô na Av. Paulista. Eu ia descer uma estação depois, mas resolvi sair do trem na mesma estação que ele – sei lá eu por que, afinal. Porque ele me pareceu ser alguém com quem valia a pena conversar. Minha intuição não me enganou. O sr. Pedro fez questão que eu saísse antes dele, do vagão – muito cavalheiro! Eu me aproximei dele, e ele sorriu. Na maior cara de pau do mundo, perguntei se nós poderíamos conversar um pouco. E ele concordou. E aí eu fiquei sabendo...

Que aquele senhor alto, olhos amendoados, magro, elegante, tem 84 anos. É casado, tem um casal de filhos, e 4 netas. Ele se casou há cerca de 50 anos, e está aposentado há pouco mais de 20. Ele mora na Mooca (ascendência italiana? Foi mal, não perguntei...) e tinha ido até a Paulista para uma consulta médica.

Ele trabalhou toda sua vida como projetista industrial, em empresas relativamente próximas ao local onde até hoje vive. Ele me disse que sua vida foi tranqüila: da casa para o trabalho, do trabalho para a casa, mas que ele organizou isso (“como permanecer 50 anos casado com a mesma pessoa?!”) – que ele ama sua esposa, muito embora ela seja um pouco difícil (que mulher não é, seu Pedro?) Mas que, quando era preciso, ele “dava um jeito nela”.

Ele pretendia, aliás, conter a esposa no próximo final de semana – isto porque o filho deles se separou da esposa já faz tempo, relacionou-se com outra mulher, mas ela – a esposa do seu Pedro – não queria de jeito nenhum reconhecer a nova relação. E ele me disse muito sério que não, que isso não poderia acontecer, e que ele ia tratar de fazer a esposa tratar bem a nova nora, em um almoço de família que iria acontecer. Se não... como ficava isso? E a relação com o filho? E com as netas?

A despeito da aparência pacata, seu Pedro também tem sua paixão: cinema. Ele contou que gosta muito de filmes, e que tem uma coleção com mais de 340 volumes (que inveja!), entre VHS e DVD, com títulos a partir da década de 40. Quando falamos sobre a morte de Elizabeth Taylor, ele me contou sorrindo que tinha assistido ao filme “A Megera Domada” na noite anterior (e eu não pude deixar de pensar na coincidência entre o título e o que ele falou sobre a esposa...)

Ele fez questão de pagar o café – quanta gentileza! – e eu o acompahei até o prédio do consultório. Quando nos despedimos, ele disse que gostaria de falar comigo de novo, mas não quis me dar seu telefone: "E se a esposa atende? Acho melhor não". Entreguei a ele meu cartão. Ele ficou preocupado pensando onde o guardaria. “E se a esposa vir? Não sei se ela vai entender... bom, posso dizer que estava com um problema de voz. Você cuida disso, não?”

Seu Pedro, seu Pedro... e o filme... mudou?

Homens. Ainda que adoráveis, falam demais...

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