terça-feira, 29 de novembro de 2011

Perplexidade


Eu estava trabalhando... e ouvi uma conversa ao telefone. A moça dizia "sim, sim, peguei o resultado. Deu positivo." E ela falou "positivo" assim, sem nenhuma inflexão diferente na voz, sem uma entonação crescente... falou positivo mantendo a mesma modulação que colocou na frase inteira. Minha escuta de fonoaudióloga ficou em suspensão: "como alguém pode contar que está grávida assim?!!"

Ela não tinha dito que estava grávida, em nenhum momento. Mas... eu simplesmente soube que era isso, quando a ouvir falar aquelas duas frases. E eu não estava errada. Depois de encerrar a ligação (ela falava com o namorado), a moça comunicou as pessoas que estavam por perto com a mesma vivacidade com que tinha conversado com seu namorado.

Eu, estudiosa da comunicação que sou, fiquei sem entender... os lábios dela sorriam, mas a fala era aquela: monótona, pouco eloqüente. Perplexa, tive dúvidas da minha capacidade para analisar os aspectos suprassegmentais daquela fala - "será que eu estou enlouquecendo? Será que não estou ouvindo?" Não. Não! Aquela fala não era uma fala de alegria, tampouco tristeza. Ela contava ao mundo que estava grávida com... intensidade nula? O que foi aquilo? O que era aquilo? O que?

Costumo celebrar uma pausa para um café na padaria com mais alegria... e brigo pelo que quero com muitíssima mais vontade. Choro minhas lágrimas com a minha alma... e, santo Deus, desconheço outra forma de viver.

Santo Deus! Se fosse eu, sabendo de um teste positivo de gravidez... se fosse eu...

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