sábado, 28 de janeiro de 2012

Delicar

Acordei com o desejo de tornar delicado o dia. Pensei, então, que delicado é um adjetivo tão bonito... deveria ser transformado em verbo para ser posto em prática vezes sem conta.


Assim, com uma nova palavra no meu léxico e na minha vida, eu me pus a delicar...


Deitei fora a água que alimentava as rosas amarelas... mais três feneceram, ficou agora uma só... troquei-a de vaso, pus um adorno e fiquei esperando que esta também feneça... é assim, bela e finita, a vida.


Cortei os talos das rosas brancas e vermelhas; limpei-os, e os arranjei no outro vaso, com os ramos verdes que antes abarcavam a rosas amarelas. Ficou um arranjo simples, e cheio de beleza.


Depois fui estender os lençóis e as toalhas de banho para secar... e desta vez eles me delicaram, tocando minha pele com cuidado, um perfume muito tênue e suave deles se desprendendo... o leve balançar provocado pela brisa... isso tudo me lembrou da beleza que pode existir ali, pequena, no estar doméstico, nos cuidados e afazeres do dia.


O café com leite com seu amargor me delicou as papilas gustativas. Desmanchar a maciez do pão me delicou os dentes, a mucosa da boca, a língua.


Tudo à minha volta reverbera delicadeza. Não sei se é a vida que se transforma, ou se sou eu, apenas, que – delicadamente – desperto, uma vez mais, para a vida.

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