Hoje a mulher de um
paciente chorou quando retirei a sonda naso-enteral que o alimentava
e falei: “pronto, agora ele pode voltar a comer por boca.”
Rapidamente, entre lágrimas e sorrisos, começaram as perguntas:
“E ele já pode comer
cuzcuz? Tapioca, pode? Mingau de fubá, ele gosta... pode também?”
Eu sorria enquanto
respondia, pensando que eles não tinham ouvido nada do que eu falado
minutos atrás... mas é sempre assim. Comida, em nossa cultura, é
expressão suprema de carinho, de cuidado, de afeto.
Quando os familiares
ouvem que a pessoa a sua frente, que tem requerido tantos cuidados,
que há pouco tempo esteve em um leito de hospital, lutando para
sobreviver... quando ouvem que essa pessoa deu mais um passo em
direção a sua recuperação... tudo o que eles querem é celebrar.
E qual melhor forma de celebrar se não... comendo? Comendo o que se
gosta?
Qual a melhor forma de
demonstrar afeto se não por meio de gestos carinhosos, que se
traduzem no separar e juntar ingredientes, batê-los, aquecê-los ou
resfriá-los, transformá-los em algo saboroso, que alimente o corpo
e a alma?
Por isso os familiares
sempre se alvoroçam, quando o paciente volta a comer por boca. E
dá-lhe perguntar “se já pode comer” tudo o que ele ou ela
gosta. Alimentar-se é necessário. Comer o que se gosta é um
privilégio... Seja macarrão, tapioca, cuzcuz, café com leite...
pipoca, sorvete de chocolate, bife frito, pão francês, pirão...
comemos para alimentar não só nosso corpo. Comemos para alimentar nossa alma e nossas relações.
Comemos para celebrar a vida.