sábado, 30 de abril de 2011

Aniversário


Sílvia, querida, para você.

Porque hoje é seu aniversário, querida, e você merece celebrar.
Porque você faz hoje 31 anos, e "está se fazendo", como diria Mário Sérgio Cortella.

O que você leu hoje? Quais versos você ouviu de manhã: Céu, Caetano, Tiê?
Eu sei que você encontrou seus pais, seu irmão, sua cunhada e amigos queridos ontem. Esse ano você não quis uma grande comemoração – tudo bem, escolha sua! Só porque esse ano eu iria, com certeza!
Ainda assim, querida, permita-me dizer-lhe parabéns com muito carinho...
Desejar que seu dia tenha cheiro de flores, cores encantadas, e um gosto suave e feliz...
Desejar que nossa amizade prossiga pela vida afora... já são 11 anos, e a vida nos colocou mais próximas agora... tão bom isso, não?
Desejar que sua mudança de casa sinalize uma mudança em sua vida... endereço novo, bairro novo, novo ciclo... novo amor?
Que em seus caminhos pela vida você encontre alegria, doçura, cuidado, encanto, contentamento.
Que você continue distribuindo e recebendo colo, carinho e sorrisos.
Que você continue se fazendo a mulher linda que é!
Seja plena... seja inteira... seja você!


"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."

Clarice Lispector, in Perto do Coração Selvagem

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Sutileza

Sexta-feira.

Uma vez mais, como fazia há já tantos anos, Helena cozinhou a massa e esmerou-se no preparo do molho: cogumelos e queijos regados com azeite.

Preparou a mesa: toalha, pratos, talheres, guardanapos, taças para o vinho e a água.

Foi, uma vez mais, ao espelho: olhos e lábios maquiados, pescoço e colo perfumados.

Por fim, deixou a travessa fumegante sobre a mesa. Acendeu as velas. E, uma vez mais, esperou. Será que hoje o amor bateria à sua porta?

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Marcego


Para Letícia, linda, de novo...

Criança se encanta com umas coisas que a gente nem sempre entende – será que quando a gente cresce, emburrece?

A Letícia fez um passeio esse final de semana que adorou: foi ao aquário de São Paulo. Entre todas as coisas que ela viu, me falou entusiasmada sobre as que mais gostou: o lobo marinho e os morcegos. Confesso que eu acho essa preferência um tanto quanto estranha – mas o fato é que ela gosta de morcegos, há muito tempo já... eu tento não podá-la, e ficar ouvindo as histórias dela – ouvir as histórias é muito prazeroso, mas tentar não podá-la – pelo menos no que se refere a essa, no mínimo, inusitada preferência por morcegos – esse é um exercício que eu tento praticar.

Já faz uns dois ou três anos, estávamos no carro eu, o Marco e a Letícia, voltando de um domingo na praia. O clima não colaborou muito, estava tudo meio nublado, mas para criança areia e mar sempre é uma combinação perfeita – pelo menos para a Lê. Se tiver sol, ótimo. Se não tiver, tudo bem assim mesmo.

Ao retornar, Imigrantes cheia, como sempre... o carro não estava lá aquelas coisas, e aquela história de ar condicionado ligado, primeira, segunda, primeira, segunda, de repente a temperatura da água começou a subir (sei lá eu as razões mecânicas para o fato, mas isso agora é absolutamente irrelevante...). Sei que desligamos o ar condicionado e abrimos as janelas, para ventilar um pouco. A Lê estava ótima, falante como sempre, contando e perguntado mil coisas, tudo ao mesmo tempo.

Apesar do calor – estava chovendo e o asfalto era puro vapor quente – fechamos as janelas do carro logo, porque estávamos bem em um trecho de serra, e já tínhamos vislumbrado o vôo rasante, muito próximo, de uns três ou quatro morcegos. A Letícia reclamou do calor, e eu expliquei porque tinha fechado as janelas. E aí ela se interessou:

“Tia, mas tá escuro, marcego gosta de escuro?”
“O morcego gosta sim, Lê. Ele enxerga bem no escuro.”
“Tia, o marcego não gosta da gente?”
“Não sei se o morcego não gosta da gente, Lê, por quê?”
“Às vezes ele gosta da gente, e você fechou os vidros, tia.”

A temperatura da água continuava subindo. A minha também...

“Querida, não sei se o morcego gosta das pessoas. Mas é que seria complicado, não é, imagina o morcego voando aqui dentro do carro?”
“Ah, tia, sei.”

Rápido silêncio.

“Tia?”
“Oi, Lê...”
“O marcego tem família?”
“Lê, tem, tem sim, os animais normalmente tem uma família, não é?”
“É.”

Nada da temperatura da água baixar. Em meio a um mar de carros, o Marco consegue sair da última faixa, e alcançar o acostamento, para ver se a coisa resolve. Tensão no ar. E morcegos, também.

“Tia?”
“O que, Letícia?!!”
“O que o marcego gosta de comer?”
“Letícia! Eu não sei o que o morcego gosta de comer. E é morcego, ok? Morcego!”

Desliguei o rádio.

“Tia?”
“Oi, Lê” – suspirei...
“Ele gosta de música?”
“Quem Letícia, o Marco?”
“Nãããão, tia. O marcego.”

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Leveza

Márcia querida, para você.


Porque ela achava que a vida podia ser leve, deixou o apartamento bagunçado. Os livros ainda estavam lá, nas prateleiras que ocupavam as paredes – todas – mas as agulhas de tricô estavam em cima da mesa, as almofadas estavam espalhadas, e o lavabo virou um depósito.

Porque ela queria a vida mais leve, preparou o estrogonofe com frango semi-pronto: já vinha desfiado, pré-cozido e, ainda por cima, tinha baixo teor de sódio. Para acompanhar, arroz delicioso, feito na panela elétrica, porque era preciso ter tempo para a cozinha e para o amor.

Porque ela queria leveza, um dia resolveu sair do balé. Fez dança do ventre, artesanato, giro sufi. Trocou de roupa, trocou de namorado e de marido, trocou de emprego – só os amigos ela não trocava. Com esses, compartilhou que não era para ser perfeito, era, isso sim, para ser bom.

Porque a vida precisava ser vivida com leveza, ela amou muito, e perdoou ainda mais. Porque se havia uma urgência – uma única urgência nesta vida – era essa: ser leve. Leve e feliz.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Ubiqüidade

Eu sei, eu sei... ainda uso a ortografia dita antiga – é tão mais bonita! Um dia, mudo.

Na canela que coloco por cima da espuma, na minha média clara matinal. No azeite extra-virgem que adiciono em qualquer comida, até quando não seria preciso. No vento que toca minha face e meus cabelos. No meu trabalho, nos pacientes que atendo. No metrô. Nas árvores que avisto das janelas da minha casa. Nas minhas palavras, no meu texto. Nos meus livros. Nas músicas que escuto. Nas imagens que vejo – e naquelas que crio. Na hora do banho. Quando vou deitar.

Fica tudo diáfano, fica tudo lembrança, em dias assim.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Renda

Brincando de fazer rondó


Depois do telefonema, ela pegou a tesoura e retalhou o vestido de renda, tão bonito, que tinha guardado para a data. Nunca mais iria procurá-lo.

Ele ligou, e disse para ela que não iria continuar. “Sinto muito, mas não dá mais.” Depois do telefonema, ela pegou a tesoura e retalhou o vestido de renda branca, tão bonito, que tinha guardado para a data. Ela própria o tinha costurado, com requinte e cuidado, e agora ela o destruiu. Nunca mais iria procurá-lo, nem que o desgraçado implorasse.

Ela estava esperando ele chegar. O telefone tocou. Ele ligou decidido, e disse para ela que não iria continuar. “Sinto muito, mas não dá mais. Vê se me entende, preciso voltar para a minha terra.” Depois do telefonema, ela pegou a tesoura e retalhou o vestido de renda branca, tão bonito, que tinha guardado para a data em que ele viesse para ficar. Ela própria o tinha costurado, com requinte e cuidado, e agora ela o destruiu. Nunca mais iria procurá-lo, nem que o desgraçado implorasse de joelhos por ela.

Ela estava esperando ele chegar. Estava atrasado. O telefone tocou. Ele ligou decidido, e disse para ela que não iria continuar. “Sinto muito, mas não dá mais. Vê se me entende, preciso voltar para a minha terra, cuidar da mulher e dos filhos.” Ela quis vociferar palavrões para o infeliz, mas ele desligou. Depois do telefonema, ela pegou a tesoura e retalhou o vestido de renda branca, tão bonito, que tinha guardado para a data em que ele viesse para ficar. Ela própria o tinha costurado, com requinte e cuidado, e agora ela o destruiu. “Ele que morra!” – ela gritou. Nunca mais iria procurá-lo, nem que o desgraçado implorasse de joelhos por ela, chorando, gritando seu nome.

domingo, 24 de abril de 2011

Infância

Para Flávia Helena, e suas histórias com saudades da infância.


Ela carregava nos braços maços de orquídeas que tinha acabado de colher no quintal. Andava por entre as árvores com o porte esguio e a cabeça erguida, tal qual uma rainha. “Sou uma rainha” – pensou. De repente, lembrou-se dos restos de pano vermelho que a mãe tinha deixado no cesto, pedaços de pano que não foram aproveitados no vestido que a dona Marina, chique como ela só, tinha encomendado.
Depositou as orquídeas, brancas, rosadas e amarelas, no chão, com cuidado, e correu em direção ao quarto de costuras da mãe. Por sorte, ela não estava lá. A mãe era dócil, mas não gostava de ser incomodada quando estava na labuta, como dizia. “Ainda mais se tem uma cliente comigo, você sabe como são essas madames, Helena.” Agachou-se e achou no cesto tesouros em forma de restos de pano: sedas azuis, flanelas estampadas, lãzinhas brancas, e, entre eles, o maravilhoso vermelho do vestido da dona Marina. Que tecido era aquele mesmo? “Cetim, acho que é esse o nome que a mãe falou.”
Na verdade, o que ela tinha em mãos eram apenas seis ou oito pequenos pedaços de pano, resultado dos acertos de barra, das mangas, e os dos ajustes finais do vestido. A mãe vivia cheia de encomendas das madames da cidade, mas, ainda assim, o cesto com as sobras de pano nunca estava cheio, porque a mãe não gostava de ficar com o tecido das madames; fazia questão de devolver todo pedaço de fazenda que pudesse ser aproveitado. “Onde já se viu roubar os outros? Não é meu, não fui eu que comprei, devolvo.” Helena já tinha ouvido isso inúmeras vezes, principalmente quando pedia para a mãe fazer um vestido, bem bonito, com o que sobrasse de tecido de alguma cliente. Já tinha visto tantas vezes a Júlia com vestidos floridos, azuis, vermelhos, lindos, lindos. Tinha certeza que a dona Maria, a mãe de Júlia, fazia aqueles vestidos com sobras de tecidos de suas clientes – ela também costurava para fora. Mas a mãe de Helena não cedia.
“Não tem problema, vou ser uma rainha assim mesmo.” – pensou. Espalhou os pedaços de tecido no chão, o vermelho ficou destacado e ainda mais bonito em cima dos tacos de madeira. Juntou-os da melhor maneira possível, e com o auxílio de uma fita adesiva, colou-os. “Seria melhor se eu costurasse, mas ainda não sei... Está na hora da mãe me ensinar.” Pedir para a mãe não adiantaria, ainda mais àquela hora, ela devia estar ocupada preparando o almoço. E ela tinha que ser rainha, tinha que colocar seu manto já.
“Meu Deus, as orquídeas!” – lembrou-se. Voltou correndo para o meio do quintal; lá estava, deixado sob a sombra da jabuticabeira, o maço de orquídeas. Começou a prender nas alças do vestido seu manto improvisado, de um vermelho majestoso, “como convém a uma rainha” – riu de si mesma. Aí então teve a idéia de fazer uma coroa, “como pode uma rainha sem coroa?”
Começou a cantarolar “como pode o peixe vivo, viver fora da água fria”, e ficou cirandando sozinha, para lá e para cá, e o manto rodopiando junto, no mesmo compasso. “Mas como vou fazer uma coroa?” Estava cantarolando e rindo quando a mãe gritou da cozinha: “Helena, vá se lavar que o almoço está quase pronto!” A mãe não gostava de ser desobedecida, e Helena gritou: “Já vou, mãe!” Mas ainda tinha que fazer a coroa. “Já sei, uma coroa de orquídeas!” – quase gritou, e ficou muito feliz consigo mesma por ter tido uma idéia tão genial. Resolveu que faria uma coroa com algumas das orquídeas que já tinha colhido, porque se a mãe percebesse que tinha tirado tantas flores de uma só vez, iria ralhar com ela. As orquídeas davam sozinhas naquele imenso quintal, e a mãe nunca brigava com a filha por ela brincar com as flores, exceto quando ela se excedia, e arrancava muitos maços de uma só vez. Como já tinha muitas orquídeas nas mãos, decidiu usá-las. “Helena!” – a mãe gritou de novo. “Mãe, já vou!” – gritou em resposta. “Pôxa, mas será que a mãe não pode esperar um pouco? Logo agora que eu tive uma idéia para a minha coroa. Como vou ser rainha sem coroa?”
Começou a separar as orquídeas rosadas – decidiu que sua coroa teria aqueles tons, porque iria combinar com seu manto vermelho.
Neste instante, percebeu que a mãe conversava com alguém. Correu até a janela da sala, e notou que a mãe estava atendendo uma cliente. “Mas que hora feliz para essa cliente chegar!” Certamente aquela senhora não tinha marcado hora, a mãe procurava não agendar provas perto da hora do almoço. Helena, entretanto, ficou exultante, e voltou para seus importantes afazeres.
Separou três ramos de orquídeas, bem floridos, cujos tons variavam do rosa bebê até um vermelho esmaecido. Foi torcendo os ramos, um no outro, com força e cuidado, para que não as flores não desprendessem dos ramos. Trabalhou um pouco, e um pouco mais, até que exclamou: “Terminei!”. Feliz, estendeu sua coroa florida para o alto, para o momento supremo de sua coroação. Colocou sobre sua cabeça a bela coroa, enlaçou nos braços os ramos de orquídeas brancas e amarelas, manto vermelho sobre os ombros, e andou para lá e para cá, por entre as árvores, rainha daquele quintal, senhora de sua infância.
Quando pensava nos decretos que iria determinar em seu reino – “todos devem brincar, todos os dias” – a mãe apareceu na porta: “Menina, venha almoçar agora!” e entrou de novo. Helena conhecia a mãe: sabia que, quando ela aparecia na porta, não estava para brincadeiras. Deixou seus aparatos de rainha, flores, coroa e manto, junto da porta da cozinha, e, antes de entrar, pensou: “acho que à tarde vou ser fada”.

Para compartilhar

O post do dia ainda está por vir... 

Estou lendo Auto-engano, de Eduardo Giannetti, e quis compartilhar a verdade e a profundidade destas palavras com vocês (em itálico, destaques meus):

"Quem somos? Por que acreditamos no que acreditamos? Como viver? Os problemas essenciais da existência e da realização humanas não respeitam fronteiras acadêmicas e convenções catalográficas. O saber especializado avança, o mistério e a perplexidade se adensam. Eliminar falsas respostas é mais fácil do que enfrentar as verdadeiras questões. O que afinal sabemos sobre nós mesmos? A racionalidade orienta mas não move; a ciência ilumina mas não sacia; o progresso tecnológico acelera o tempo e abre o leque mas não delibera rumos nem escolhe os fins. O universo subjetivo no qual vivemos imersos é tão real quanto o mundo objetivo no qual trabalhamos e agimos. A relação mais íntima, traiçoeira e definidora de um ser humano é a que ele trava consigo mesmo." (pág. 9)



sábado, 23 de abril de 2011

Uma vez mais

Eu não sei se é apenas uma triste coincidência - de novo!, ou se eu andava desapercebida do mundo à minha volta... o pai de uma amiga muito querida e especialmente importante nestes últimos tempos faleceu. Fica aqui o silêncio, em respeito à dor que nos causa a morte.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Relicário

Porque era Sexta-feira Santa, ela decidiu visitar seu relicário. E (re) descobriu por lá as coisas de sua infância: seu primeiro óculos, envoltos em um estojo de veludo vermelho, que ela usou quando tinha 8 anos, com a Mônica – usando óculos, evidentemente! – em cada uma das hastes.

Encontrou um brinquedo de origami, todo colorido de azul, verde, rosa, preto, da Feira da Liberdade, que ganhou de presente da mãe, e que até hoje funciona (dois palitos de sorvete colados a uma “estrutura” de papel, que, conforme movimentada, cria diferentes esculturas).

Seu Manual de Proprietário de um Le Cheval Break Light também estava lá. Dois cadernos de redação, também. Em um deles, o início do primeiro texto: “Quintanista, ai, que delícia!” Ela sempre gostou de descobrir palavras, e usou esta com gosto, quando pode.

Na caixa cor de rosa, com laço de fita verde, mais saudades: o convite de casamento que fora dado para sua avó.

Seus diários, seus cadernos, seus livros, suas fotos, todos estes guardados contavam sua história, formavam seu relicário. Tudo isto – e tudo o que ela ainda queria viver.

O que nos define? Nossas lembranças? Nossos guardados queridos? As músicas que ouvimos? Nossos princípios? Ou tudo o que nos dispomos a viver?

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Preguiça



Manhã de feriado... o sol chegou faz tempo, mas a lua está com preguiça de ir para casa.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Sentido

Silencia tua voz.
Cala teus pensamentos.
Une teus lábios, cerra teus olhos, oclui teus ouvidos, tampa teu nariz.

E aprecia...

Cheira tua visão.
Toca teu olfato.
Escuta tua pele.
Avista teu paladar.
Saboreia tua audição.

Qual sentido darás para tua vida?

Para ouvir depois: As ilhas dos açores, Antologia, Madredeus.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Água

no ventre
na boca
na nuvem
no mar

no rio
na fonte
na chuva
no ar

na célula
no sangue
no plasma

para nadar
para mergulhar

para (re) nascer
e esquecer

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Letícia


Porque ela é uma menina de 7 anos que adora brincar...

Porque ela é linda e meiga...

E porque ela é criativa e inteligente...

Juntou folhas de um caderno dos Backyardigans, tesoura (cor de rosa, claro!), fita adesiva, caneta preta, canetinha azul... e fez um livro! Sozinha, idéia dela, brincando...

Recortou 6 folhas do caderno. Separou duas para a capa e a contracapa. As outras 4 foram coladas com fita adesiva e foram as páginas do livro.

O título da história: “A Camila e a sua mesa.” A capa foi ilustrada pela própria autora: uma menina com vestido (mas é claro!) e rabo de cavalo, bolsa (não poderia faltar!), e a sua mesa, evidentemente. Capa e contracapa também foram coloridas.

Nas páginas, acima, o nome da autora: Letícia Frizzo, escrito em letra cursiva.

A história, essa em letra de forma (tal como foi escrita pela autora):

“Eu tennero uma mesa de madeira misturada com fero e com cadeira e com muitos bonecos e muitas bonecas e e pr a brinca de e de escolinha e de jogos desenhe a Camila e a mesa”

Abaixo, novos desenhos: a Camila, com rabo de cavalo e sorrindo, o sol, uma nuvem, e uma casa com uma porta que sorria. As outras páginas também foram decoradas com desenhos que mostravam a Camila e suas brincadeiras.

A Letícia está anos luz à minha frente... na história de “ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore”, aos 7 anos, ela já escreveu o primeiro livro.

E, pois é... descobri ontem que, apesar de saber que seu nome significa “alegria”, ela gostaria de se chamar Camila. Tão cedo e já está insatisfeita com algumas coisas...

É ou não é uma garota linda (para mim, a mais linda do mundo!) descobrindo o mundo?

domingo, 17 de abril de 2011

Prelúdio

Porque é preciso ecoar na alma, antes.

Entra-se na alma pelos olhos?
Janelas coloridas que se ofuscam com o brilho do sol.

As palavras carregam alma própria, ou ecoam a tua?
Dita as palavras certas e a tua alma vai encontrar a minha.

É a pele a porta de entrada da alma?
Toca a minha alma com as pontas dos dedos... depois dos beijos.

sábado, 16 de abril de 2011

Para encantar

Hoje é o Dia Mundial da Voz... para não esquecer... para arrepiar... para encantar:
Um coral virtual com 1752 cantores, de 58 países, unidos pela voz, pela música, pela Internet.


Construção

Construção leva tempo. Inspira cuidados. Necessita paciência. Precisa querer. Disponibilidade também.

Leva tempo. Necessita conhecimento. Necessita firmeza. Também leveza. Precisa planejar. Organizar também.

Leva tempo. Precisa considerar. Precisa ponderar. Delegar também.

Construção... leva tempo. Precisa ser... precisa, posto que é preciosa.

Ainda que leve tempo, não se constrói sozinho. Quem vai navegar teu barco... contigo? Quem vai construir (com) você?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Diário

De novo... Duas vezes a mesma palavra exata? Desculpem, senhores... é que eu simplesmente não resisti. Em itálico, comentários:

Outro caderno, que comecei em 03/12/1995:

“Será que começo com um 'Querido Diário'?
Não, é idiota demais”.

11 horas da noite de 8/maio/1996:
“(...) eu amo demais a minha avó” – bem, ok, está aí uma verdade que não vai mudar.

08/06/1996, 21h25:
“Aos meus amores (aqueles a quem amei)...

Alfredo, Carlos, o nome não importa, os nomes são rótulos, se você ler, e você também, vai saber, eu amei você.
Eu amo vocês.
E quero o colo, o carinho, quero essa essência tão única a que não se nomeia, esse profundo quase desconhecido, esse brilho no último olhar, o prazer do toque, a expectativa do primeiro beijo, a alegria e o êxtase do orgasmo e do amor compartilhados, vocês.
Amores, amores...
A quem eu amei, eu amo.”

Uau! E eu tinha só 17 anos...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Diário

Tem dias em que é difícil escrever... a palavra exata às vezes foge, escorre pelos dedos. Olhei para alguns dos textos que tenho prontos, mas nenhum deles pareceu ecoar hoje.

Folheando livros e cadernos, caçando inspiração nas minhas coisas, achei meu diário de 15 anos. Na verdade, “15 anos e 10 dias, às 12h20” – foi essa a data e o horário do primeiro registro. E admito que nada me pareceu mais apropriado do que “tomar emprestado” as minhas próprias palavras, escritas há pouco mais de 17 anos, porque, sim, elas ainda fazem sentido (os trechos em itálico são meus comentários atuais):

“(...) E, como ainda pretendo ser uma autora, quem sabe um dia esse diário vira um livro?” Por que será que escrevi 'ainda'? Eu só tinha 15 anos! Mas acho, e hoje vale o ainda, que isso pode acontecer. Só não vou, de forma alguma, publicar meu diário...

“(...) Mas, como nenhuma verdade é eterna aos 15 – bom, hoje eu sei que nenhuma verdade é eterna, nunca! – , muita coisa pode acontecer, muitos amores para viver, muito a aprender, muito a melhorar, e até mesmo, de repente, errar, prá poder ter a experiência!”

Acho que a garota de 15 mudou bastante, mas a essência está aí. Acredito profundamente em tudo isso e quero muito viver, aprender, melhorar, e errar, por favor, porque tentar ser perfeita é um fardo pesado demais.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Espera

Quando tudo o que você deseja é que as horas escorram pelo ralo junto com a água do banho... e que o silêncio se transforme em palavras reverberando na superfície de todas as coisas... tempestade lavando tudo ao redor, lavando sua alma... quando tudo o que você deseja é que a expectativa se transfigure em algo palpável,  seja sólido, líquido, vapor entrando pelo corpo... desde que possa ser tocado, sentido, visto, medido. Quando parece que nada mais faz sentido, quando nada mais faz sentido, e tudo o que se pode fazer... nada.

Para ler ouvindo Amsterdam, A rush of blood to the head, Coldplay.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Corpo

O corpo é o lugar da memória. O corpo conta que crescemos, o corpo conta que envelhecemos. O corpo narra as histórias – basta saber ouvi-las. Cala as palavras e escuta com atenção tudo o que o corpo quer te dizer. Da tristeza, do fel, da expectativa, da alegria. Da espera. Gravidez.

O corpo é o lugar da memória? O corpo por vezes quer negar seu passado. Às vezes é preciso extirpar massas, corrigir caminhos, sondas para os fluídos, fuga. De si mesmo?

O corpo não é o lugar da memória. O fardo pesado do que não foi resolvido fica melhor se for, simplesmente, esquecido. O corpo esconde o pensamento dentro de uma caixa de jóias – ou seria a de Pandora? – e, às vezes, sabiamente?, perde a chave.


Se o corpo é o lugar da memória, marca no teu corpo palavras de amor.
Para que nunca, jamais, em momento algum, te esqueças de ti mesmo. Nem de mim.

Para compartilhar

Para compartilhar...


com os eventuais insones, como eu, hoje... a trilha sonora da noite

" (...) When the truth is, I miss you
Yeah the truth is, that I miss you, so (...)"

Warning Sign

"Night turns to day and I've still got no answers"

A Whisper

A Rush of Blood to the head, Coldplay

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Íctio

Ela pedalava por ruas tranqüilas. As copas das árvores filtravam os raios de sol do fim da tarde, criando desenhos sinuosos no asfalto. Ao passar pela mercearia, lembrou-se do convite da amiga mais velha – que era ela própria, mas ela ainda não sabia: “Vá à mercearia quando puder, e prove aquele peixe”. Decidiu parar.

Sua amiga mais velha estava lá. E as duas pediram o peixe. Ao ser servido, tudo o que ela viu foi um peixe gordinho e empanado sobre a travessa de alumínio. “Prove-o!” – disse a idosa, com um olhar cúmplice. “Esse peixe é mágico.”

A mais nova obedeceu. À primeira dentada, susto: vivo! O peixe estava vivo! E se debatendo ainda entre as algas verdes.

Num instante, água, água ao redor. Ela sentiu o sal marinho entrando pelos seus poros, por sua boca, seu nariz, encharcando seus cabelos. Ela se assustou e quis gritar. Foi quando seu olhos se abriram. E ela entendeu que a senhora a sua frente, que lhe sorria, calma, não era se não ela própria, no futuro.

Aquietou-se e deixou-se inundar. Virou peixe. E ganhou o mar.


"Ver e ouvir e sentir são milagres, como é milagre cada parte e migalha de mim"
Walt Whitman, Canção de mim mesmo, in Folhas de Relva

domingo, 10 de abril de 2011

E?

Esse foi o post da última sexta. Porque ainda ecoa, aí vai.

Eu – penso que – fiz tudo certo: separei o lixo reciclável do orgânico; separei as roupas por cores para lavar; escolhi o aspirador de pó depois de muita pesquisa – pesquiso quase tudo antes de comprar. Sempre preparei legumes e verduras e frutas para o jantar. Estudei muito, muito, a vida toda, bastante. Estive sempre – ou quase sempre – à disposição. Não saí por aí gastando dinheiro à toa.

Mas, de repente, nada mais deu certo: o lixo que separei o funcionário do prédio juntou, virou tudo uma coisa só. O varal até que ficou bonito, todo azul claro e branco, mas o colarinho ficou sujo por causa do pó. Tem poeira na casa e eu sem vontade de aspirar. O arroz cozinhou demais, e o repolho, porque eu não gosto, já passou. Preciso estudar mais?! Eu liguei e não me atenderam, e eu precisava tanto falar. Tem dinheiro na conta, mas o que é que vou fazer?

Haja paciência com o tempo, para esperar tudo se resolver. Ou para eu me resolver.

sábado, 9 de abril de 2011

Pedro

Essa é verdadeira...
E o nome pode ser Pedro, João, José... o negócio é contar a história.

Eu gosto muito de histórias – tanto de contá-las como de ouvi-las. Aliás, gostar é pouco. Sou apaixonada. Pelas histórias e pelas pessoas. Isso certamente influenciou minhas escolhas profissionais, ou, mais do que isso, minhas escolhas de vida – me dói na alma ver alguém destituído do posto de protagonista e, sobretudo, narrador da própria história. Mas essa não é a história... não a de agora.

Conheci o seu Pedro numa tarde ensolarada, numa estação de metrô na Av. Paulista. Eu ia descer uma estação depois, mas resolvi sair do trem na mesma estação que ele – sei lá eu por que, afinal. Porque ele me pareceu ser alguém com quem valia a pena conversar. Minha intuição não me enganou. O sr. Pedro fez questão que eu saísse antes dele, do vagão – muito cavalheiro! Eu me aproximei dele, e ele sorriu. Na maior cara de pau do mundo, perguntei se nós poderíamos conversar um pouco. E ele concordou. E aí eu fiquei sabendo...

Que aquele senhor alto, olhos amendoados, magro, elegante, tem 84 anos. É casado, tem um casal de filhos, e 4 netas. Ele se casou há cerca de 50 anos, e está aposentado há pouco mais de 20. Ele mora na Mooca (ascendência italiana? Foi mal, não perguntei...) e tinha ido até a Paulista para uma consulta médica.

Ele trabalhou toda sua vida como projetista industrial, em empresas relativamente próximas ao local onde até hoje vive. Ele me disse que sua vida foi tranqüila: da casa para o trabalho, do trabalho para a casa, mas que ele organizou isso (“como permanecer 50 anos casado com a mesma pessoa?!”) – que ele ama sua esposa, muito embora ela seja um pouco difícil (que mulher não é, seu Pedro?) Mas que, quando era preciso, ele “dava um jeito nela”.

Ele pretendia, aliás, conter a esposa no próximo final de semana – isto porque o filho deles se separou da esposa já faz tempo, relacionou-se com outra mulher, mas ela – a esposa do seu Pedro – não queria de jeito nenhum reconhecer a nova relação. E ele me disse muito sério que não, que isso não poderia acontecer, e que ele ia tratar de fazer a esposa tratar bem a nova nora, em um almoço de família que iria acontecer. Se não... como ficava isso? E a relação com o filho? E com as netas?

A despeito da aparência pacata, seu Pedro também tem sua paixão: cinema. Ele contou que gosta muito de filmes, e que tem uma coleção com mais de 340 volumes (que inveja!), entre VHS e DVD, com títulos a partir da década de 40. Quando falamos sobre a morte de Elizabeth Taylor, ele me contou sorrindo que tinha assistido ao filme “A Megera Domada” na noite anterior (e eu não pude deixar de pensar na coincidência entre o título e o que ele falou sobre a esposa...)

Ele fez questão de pagar o café – quanta gentileza! – e eu o acompahei até o prédio do consultório. Quando nos despedimos, ele disse que gostaria de falar comigo de novo, mas não quis me dar seu telefone: "E se a esposa atende? Acho melhor não". Entreguei a ele meu cartão. Ele ficou preocupado pensando onde o guardaria. “E se a esposa vir? Não sei se ela vai entender... bom, posso dizer que estava com um problema de voz. Você cuida disso, não?”

Seu Pedro, seu Pedro... e o filme... mudou?

Homens. Ainda que adoráveis, falam demais...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Tragédia

Deus do céu. Silêncio, de novo, e em tão poucos dias. Silêncio para respeitar o pranto e a dor de tantas pessoas. Vai saber o que se passa na vida de alguém, para resolver acabar assim.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Beijo

Eles se abraçaram longamente. E se beijaram.

Num instante, pausa. Eles se olharam. E ela pensou em olhos de ressaca, vaga, força profunda, mar. Eles se beijaram de novo, com força. Avidez.

O que vem primeiro? A ressaca? Ou a tormenta?

Hoje acordei pensando em Dom Casmurro, Machado de Assis.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Figos

Hoje comi figos. Figos doces, suculentos, sumarentos. Figos com sabor de casa, da minha avó. Figos com gosto de saudades. Saudade surda, terna mas dolorida, rosa e vermelha. Os figos tocaram meus lábios, minhas papilas gustativas, invadiram meu estômago, minhas vísceras, meu cérebro, meu coração. Sabor de figo correndo pelas veias. Cheiro de figo invadindo o olfato. Figueira à vista. Saudades. Saudade é dor? Saudade tem sabor? A saudade hoje tem cores: rosa, roxo e vermelho, e o verde do figo. Cadê minha avó? Cadê você?

terça-feira, 5 de abril de 2011

Para suspirar

Não, não é o post do dia... esse já foi, logo abaixo.

Só para compartilhar a beleza dessa música com vocês, leitores, daqui ou de outro continente – preciso começar a escrever em espanhol e em inglês :)

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor
(...)
O quereres e o estares sempre a fim
Do que em ti é em mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente impessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim

O quereres, Caetano Veloso, in Velô (1984)

Honra

Ela abordou o policial militar e perguntou: “oi, senhor, desculpa, é o senhor que estava naquela viatura?”
“É, é sim.” “Foi o senhor que efetuou o disparo ali?” A conversa segue, e ela afirma: “olha bem para a minha cara, senhor. (…) O senhor tem a consciência do que o senhor fez.”

Ouvi esse diálogo durante a manhã, na CBN, indo trabalhar. Para quem não sabe, refere-se a um trecho de uma ligação feita ao 190 por uma mulher, que estava visitando o túmulo do pai em um cemitério em Ferraz de Vasconcelos, e presenciou a execução sumária de uma pessoa, que havia sido capturada por dois policiais. Enquanto conversava na central, ela também falou com o próprio policial que atirou.

Comecei o dia com outra perspectiva por causa dessa notícia. Sim, lamento tudo o que ocorreu. Mas admiro muito, muitíssimo, essa mulher. Essa mulher merece respeito, reconhecimento, aplausos. A vida dela mudou para sempre, mas ela não se curvou diante do medo, não calou, e – obstinadamente – agigantou-se diante do abuso de poder, da pobreza de espírito, da podridão que assola o caráter de tanta gente.

Honra é pouco para definir essa mulher. Ela merece muitas – e as melhores – palavras exatas: dignidade, coragem, ética, grandeza.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Primeiro

Essa história é verdadeira...

Eu tinha 7 anos quando gostei pela primeira vez de alguém. O nome dele é Rafael. Eu me lembro que, certo dia, depois da aula, subi para minha cama – eu dormia na parte de cima da beliche – e escolhi um papel de carta bem bonito para dar para ele. Eu mal sabia escrever, mas lembro que peguei meu estojo, escolhi um lápis, e rabisquei, com letra de forma: "beijo". Foi só isso. Só isso, mesmo. Mas a minha mãe quase me matou.

Ela me viu muito interessada mexendo nas minhas coisas, selecionando papéis e lápis – eu acho que cheguei a confirmar com ela a grafia de "beijo", mas sobre esse ponto não tenho realmente certeza... Sei que, depois de muito trabalho – de certa forma, a garota de 7 anos era um prenúncio da mulher de 32 – minha mãe resolveu checar qual o motivo de toda minha movimentação e evidente contentamento na beliche:

" – Fabíola, o que é que você está fazendo aí?
– Eu, mãe?! Nada!! (será que a gente mente por instinto? Psicólogos de plantão, manifestem-se!)
– Então deixa eu ver isso aí nas suas mãos!
– Ah, não, mãe, é coisa minha... "– já assustada e meio chorosa, tentando colocar a carta atrás do corpo.

É óbvio que a minha mãe leu A carta, A declaração de amor que eu fiz para o Rafael. E não só leu, como me passou um sermão: que eu, menina, não poderia mandar beijos para um menino. Que meninas decentes não mandam beijos para meninos. E que se eu, menina decente, resolvesse correr o risco de – pior ainda! – beijar um menino, eu me tornaria uma menina má, e – mil vezes pior! – seria mal falada.

Depois de todo esse sermão – e da minha declaração de amor pueril confiscada pela minha mãe – eu não tive coragem de escrever outra carta para o Rafael. Às vezes aquele garoto com cabelos cacheados castanhos e pálpebra direita meio caída – ele tinha um rosto de anjo! – sorria para mim no recreio, e o meu rosto, na hora, sempre ardia de tão vermelho. Mas, no fim das contas, a gente nunca se beijou.

Só muito tempo depois, adultos, cada um indo para o seu trabalho, e só no rosto... quando, por duas vezes, a gente se cruzou no metrô. Ele ainda tem o mesmo rosto de anjo, e por isso o reconheci. Mas ele também me reconheceu, de imediato. Considerando que nós estudamos juntos apenas durante a primeira série – em 1986 – talvez ele também tenha querido, naquela época, me beijar.


Ainda bem que o tempo passa, e a gente aprende algumas coisas importantes na vida. Não sei se foi por isso, mas o meu primeiro beijo, anos depois, foi, tecnicamente, um desastre. Fiquei mal – de novo! – na época, mas nada que a prática não tenha aperfeiçoado.

E, como hoje eu já sei que beijar não me tornará uma menina mal falada, mando beijos, muitos, e sorrisos também, para todos os garotos e garotas que me lêem. E, ah! Muito obrigada... já são quase 450 acessos. Uau! Estou feliz.

domingo, 3 de abril de 2011

Estampa

Para Sílvia

Escolheu, para o casamento do irmão, o longo estampado: laranja, amarelo, lilás e azul. A mãe estranhou, o pai disse que parecia “vestido de madrinha de bateria, não de madrinha de casamento” – e ela riu.

No dia esperado, colocou na cabeça uma tiara delicada, escolheu os brincos, belo par de sandálias, e saiu para brilhar – não, não era para competir com a noiva. Era, isso sim, para brilhar – para si própria, para o mundo.

Porque ela não queria a vida monocromática. Porque ela festejou com orgulho seus 30 anos. Porque ela saiu na passarela para sambar. Porque ela não queria nada sem graça. Porque ela gostava de Nelson Rodrigues e da Mafalda. Porque ela ouvia Mariana Aydar, Céu e Marina de la Riva. Porque ela não queria pouco, porque ela não vivia pouco – era para ser intenso, sempre!

Para compartilhar

Esse não é o post do dia... é só para compartilhar.

Acordei pensando sobre o que iria escrever, e lembrei de uma citação em um livro que tenho no criado-mudo - o tal do "livro de cabeceira". Acabei rindo com a situação: eu não tenho um livro de cabeceira. No momento, são oito. E entre eles não estava o que eu queria. Procurei, procurei: encontrei mais um, na parte de baixo do móvel. E, ah! Dentro da gaveta, o livro que eu queria: Para uma grande mulher, ed. de Lidia María Riba, Vergara & Riba Editoras.

Bom, folheando o livro, acabei encontrado a citação que eu queria, e mais outras tantas. Selecionei uma (tem coisas que são tão difíceis... qual a citação exata?):

"...O repentino desejo de se ver formosa a fez endireitar as costas. Formosa? Para quem? Para si mesma, logicamente." Colette

sábado, 2 de abril de 2011

Nós

Para Elaine.
Para Márcia.

De repente
Ah! Que sufoco!
É preciso desenvolver
suas manuais habilidades
Pinturas, tecidos, crochê.
Macramê.
Nós no tempo.
As mãos desatando
Os nós
da vida
E eu
aqui.
O quê?
Nós na garganta
Nós na palavra
Desata os nós
do acaso.
Desabrocham as flores
pintadas na seda.
Desata os nós,
o embaraço,
e entrelaça
as palavras.
Tece-as
uma a uma
com o fio da vida.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Agora

Porque não adianta se atirar do precipício, nem achar que tudo se acabou. Se noutro dia, de repente, tudo ficou diferente, só uma coisa realmente mudou: você. Às vezes acaba o espetáculo, apagam-se as luzes, acabam-se as palavras, e você achava que não, era só um fim de capítulo, era só virar a esquina e pronto! Tudo resolvido. Encare os fatos: as coisas mudaram porque você mudou. Junte seus cacos, junte seus retalhos, e decida qual história você vai contar.

Para ler ouvindo Hóspede do tempo, Zélia Duncan, in Sortimento (2001).