domingo, 31 de julho de 2011

Acordo

Então fica combinado assim: um dia após o outro. Deixa o tempo passar, deixa as águas fluírem, que tudo irá se resolver por si mesmo.

"A vida é uma reta, uma estrada sem fim." Clarice Lispector, Perto do coração selvagem.

sábado, 30 de julho de 2011

Sonho

Com carinho, para Ana Luisa e Roosevelt.

Vocês partiram há quase uma semana. Deixaram famílias, amigos, empregos, casas, toda a vida que conheciam. Deixaram tudo. Em busca de um sonho.

Há entrega maior? Existe na vida algo melhor do que atirar-se, entregar-se sem reservas, permitir-se arriscar e viver um sonho? Viver a vida em sua plenitude?

Vocês tomaram juntos a mais bela e difícil decisão da vida de vocês. Vocês não apenas decidiram se casar e viver juntos. Vocês decidiram viver juntos... um sonho. O sonho da vida de vocês.

Seja no Canadá, no Brasil, no Japão, onde quiserem, onde estiverem, onde sonharem estar: vivam tudo o que vocês sonharem. Vocês serão felizes, certamente.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Perspectiva

Esquina da Canário com a República do Líbano. Em 2002: cruzei essa esquina tantas e tantas vezes. Com medo. Com pânico. Doente. Caminhando em busca do que sabia que era melhor para mim. Difícil. Mas sim, melhorei.

Esquina da Canário com a República do Líbano. 29 de julho de 2011: Não foi planejado, mas, quando dei por mim, lá estava eu, 9 anos depois, cruzando aquela mesma esquina. Carregando o medo que todos nós carregamos, porque afinal nós nunca sabemos o que vai nos acontecer na próxima esquina. Mas carregando alegria, realização, confiança. Feliz. Quando algo que você tanto sonha começa a tomar forma... caminhei tanto para isso... e começou a acontecer, de outra forma. Tracei caminhos que não (eu achava) deram certo, mas começo a achar que tudo só não tinha dado certo porque simplesmente não era a hora, ainda.

Perspectiva. Tempo e perspectiva.

"Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento do primeiro elo em um dia memorável."

Charles Dickens, Grandes Esperanças
(mas eu li em Um Dia, David Nicholls)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Fugaz

Ele reteve a mão dela na sua poucos segundos a mais do que o necessário. Ínfimos segundos. Instante infinito e fugaz.

Soltou-a devagar, as falanges dos dedos contando segredos. Depois os olhos se encontraram e derramaram poesia. Infinitos segundos, segundos fugazes.

Instante infinito, aquele em que pensas ter coragem.
Infímo instante, aquele em que calas e não age.
Infinito e fugaz, como tudo acabará por um dia ser.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Aborto

De repente, abortei a idéia de querer recuperar o tempo perdido. Desisti de querer escrever todas as palavras exatas que não foram escritas nestes dias. Algo como encarar um “game over”, ou dar-se conta de que o melhor, às vezes, é admitir: não vou conseguir fazer isso.

Era para falar de perdas, de despedidas, da minha avó, de doces. Era para pensar em palavras exatas bonitas, e outras que poderiam assustar um pouco. Ainda que assustassem, lembro de Rubem Alves, que falou tantas vezes sobre a beleza que existe na tristeza.

A gente precisa de honestidade, sobretudo consigo próprio. Precisa de coragem para dizer: “Não posso. Não consigo. Não quero.” Passou o instante; as histórias não contadas já acabaram – ou ainda não? As histórias que ainda estiverem vivas, serão contadas, certamente.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Quanto tempo!

Tantos eventos importantes acontecendo esses dias... duas ou três palavras exatas prontas, escritas em um guardanapo, ou qualquer outro papel disponível no instante em que elas surgiram.

Mas tanta coisa acontecendo...

Para quem lê, espero realmente que voltem! Hoje o cansaço já me venceu, e não, não vou postar nada agora. Mas há palavras por vir.

Saudades daqui...

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Margarida



Bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer...

Sim, não, sim, não, sim, não, sim, não, sim, não...

Quantas pétalas há na tua flor?

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Réstia

Faltou luz. Ao redor, tudo mergulhado na mais densa escuridão. Se ao menos tivesse à mão uma vela, uma só...

Precisava de um pouco de luz, para poder ver. Parecia estar dentro de um quarto escuro, todas as janelas fechadas, nenhuma réstia de luz, nada, nada... não sabia mais o que fazer. Lembrou então do Mito da Caverna - e desejou que, além da escuridão circundante, não só uma réstia, mas uma intensa fonte de luz brotasse de seu interior.

Porque às vezes a verdade está dentro de nós.

Para compartilhar

"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade." Mary Cholmondeley

terça-feira, 19 de julho de 2011

Palimpsesto

Helena escreveu uma, duas, três versões possíveis, e não gostou. Lista de supermercado é sempre mais fácil...


Saiu da escrivaninha, abriu a janela, sorveu o ar gelado e úmido da noite boca, narinas, poros adentro. Se fosse pássaro, mergulharia naquele instante na escuridão da noite. Se fumasse, teria um cigarro aceso entre seus dedos naquele exato momento. Mas não era pássaro. E não fumava.


Helena era uma mulher com sentimentos retumbantes, com vida pulsando e latejando por todos os sentidos, tentando transpor tudo o que estava vivendo para o papel. Mas nem sempre a mensagem conta tudo o que se queria dizer... tal qual um palimpsesto.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Lembrança

A neblina da manhã lembrou a serra do mar. Tantas folhas caídas pelo chão lembraram o outono. A ventania inesperada lembrou agosto. O calor morno da tarde lembrou a primavera.

Ah... não precisou nada, nada. Para lembrar você.

Replay

Tudo correu como esperado. A conversa tantas vezes ocorrida, as falas estabelecidas, os mesmos personagens defendendo conhecidos pontos de vista.

Pode ser aconchegante saber o roteiro da história. Mas quase nunca é libertador.

sábado, 16 de julho de 2011

Espuma

Sentiu um pouco de espuma no cabelo recém-lavado. Voltou ao chuveiro, e deixou cair o jato forte e quente da água sobre a cabeça, sobre o rosto, sobre todo o corpo. O espelho estava embaçado, mas adivinhou nele a imagem do corpo limpo e ainda molhado. Só não conseguia vislumbrar sua alma. Essa, continuava indevassável.

Miríade

Para sexta, 15 de julho.

Sabia que existia uma miríade de estrelas no céu, mesmo sem conseguir enxergá-las. Sabia que já tinha vivido mais de uma miríade de dias, mesmo que não se lembrasse de todos eles. Sabia que existiam milhões de milhares de miríades de pessoas no mundo, mesmo sem conhecer todas elas.

Sabia que, por mais que tentasse, não poderia planejar tudo o que iria acontecer em sua próxima miríade. Às vezes, mal dava conta do dia seguinte... iria tentar sempre viver apaixonadamente, entretanto. Dia após dia. Um dia após o outro. Até a próxima miríade. E depois, de novo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Abismo

Há um abismo, logo à frente.
...
Se a gente acreditar – muito – será que consegue voar? Porque não se pode mais voltar para trás.

"Todos os dias têm a sua história, um só minuto levaria anos a contar..." José Saramago, in Levantado do Chão.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Integrados

No jardim da Faculdade de Saúde Pública da USP, hoje, pouco depois das 17h...

Duas jovens conversavam, animadas, sentadas em um dos bancos.
Um grupo de 8 mulheres, sentadas em círculo, estava encerrando a ginástica, debaixo das sombras de algumas das frondosas árvores daquele jardim.
Apoiando um dos pés em um dos bancos, um homem fumava, a princípio absorto em seus pensamentos, depois agitado, girando ao redor de si próprio...
E eu? Bem, eu estava ali de passagem. Freqüentei (sim, eu ainda uso e gosto do trema...) muito aquele espaço durante a pós-graduação. Hoje passei lá apenas por alguns instantes.

Ainda que curto, foi o tempo necessário para notar que todos, ali, estavam integrados à paisagem. O edifício da faculdade à esquerda, logo depois a edificação da biblioteca e da lanchonete. O som do trânsito na Dr. Arnaldo e na Teodoro Sampaio. As mulheres que conversavam; as que se exercitavam; o homem que fumava; e eu. Por um breve instante, estávamos todos integrados: àquela paisagem, e um com o outro. Irmanados.

Só me senti integrada por me sentir inteira. Por me sentir inteira, também me senti plena, e pronta para (com) partilhar. Plena, me (re) descobri viva.

E saí daquela jardim assim: pulsando vida.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Ventura

Escreve aqui, entre essa e aquela cicatriz, a tua palavra de amor.
Marca a tua história no meu ventre.
Marca você em mim.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tempo

Era tarde, mas abriu a janela para ventilar a alma.

A palavra passado bateu à sua porta durante a tarde levemente ensolarada. Veio sorridente, descompromissada, com memórias vagas, atualizações sobre o passado e sobre o presente.

À noite, a palavra futuro ressoou em seus ouvidos algumas vezes. Chegou querendo ser leve, sorriso no ar, mas percebia-se ao fundo a ansiedade latente, a pergunta por trás da pergunta. O futuro. O futuro. O futuro... agora.

Mas agora é só o tempo presente. E o presente, por hora, se basta.

"Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu" Eclesiastes 3, versículo 1.

Silêncio...

e introspecção. Foram as palavras exatas para sábado, 09 e domingo, 10. Por isso, a ausência.

Equação

A palavra exata de sexta-feira, 08 de julho.

Era quase meia-noite. No bar, ouviram The Smiths, Fait No More, The Cure, e outras músicas de bandas dos anos 80. Conversavam. O DJ deu um salto no tempo, e começou a tocar It's My Life, do Jon Bon Jovi. Ainda que não resolvida, a equação começou a clarear: x não é igual a zero. É positivo, definitivamente. E só vai dar certo se for para elevar à enésima potência. Apenas isso. Nada menos que isso.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Febre

Quando o corpo pulsa diferente. Quando o ar entra diferente. Quando tudo o que gente precisa: descanso. E um bom chá.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Interlúdio

Raios tímidos de sol coalhados por entre as árvores. Cantos de pássaros entre os prédios nas ruas do centro da cidade. Muitos passos apressados. Havia ainda os que vagavam. Sem destino?


Suspirou sozinha, na tarde cheia e vazia. Passa, tempo. Passa o tempo. Passatempo.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Superfície

Até onde se podia ver, a salada de frutas era mega-colorida, tal como gosto: o verde do kiwi, o amarelo da manga, o laranja do mamão, o vermelho paixão do morango, o roxo da uva, o tom esmaecido do abacaxi (qual a cor do abacaxi?). Comecei a me deliciar, e descobri que havia sido enganada: além da superfície, só mamão e abacaxi. Prefiro ser enganada ao contrário: para além da superfície pouco atraente, descobrir um interior rico em nuances, desejoso de ser explorado. Tristeza quando a gente vislumbra o interior, mas não deixam a gente quebrar a casca. Deve ser medo de se partir.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Para compartilhar

Contentamento

Pode acontecer de um jeito silencioso, uma quietude alegre, calma, sem estardalhaço, depois que você percebe que errou o caminho, porque estava tão absorta em seus pensamentos... de repente, começou a fazer sentido.

"As pessoas podem mudar tudo: de cara, de casa, de família... namorada, religião, de Deus. Mas tem uma coisa que não se pode mudar, Benjamín: não se pode trocar de paixão!"

Fala do personagem Sandoval, no belíssimo "O segredo dos seus olhos", filme de 2009 dirigido por Juan José Campanella.

domingo, 3 de julho de 2011

Pecados

Pecado 1: comer macarrão instantâneo – deve haver quem goste, mas isso é pior que comida de astronauta, porque sequer nutre o suficiente. Não se pode chamar de comida, definitivamente.

Pecado 2: adicionar azeite extra-virgem em macarrão instantâneo. Melhor seria comê-lo puro...

Pecado 3: beber Uxmal Malbec depois disso tudo – é um vinho bom demais para ser desperdiçado assim.

Tomara que eu não morra hoje. Porque se acontecer, sem antes eu me redimir, vou arder no fogo do inferno, com certeza.

sábado, 2 de julho de 2011

Indefinido

Esses sons de água correndo, às vezes mais distantes, às vezes mais próximos... é só a água da chuva, depois da tempestade? Ou o dique está rompendo?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Descanso

Que o teu sono te transporte para um lugar lindo, sem dor e tristeza. Que em teus sonhos você encontre alegria, e que eu esteja lá também. Que, ao acordar, você encontre força  e também leveza. Porque a gente precisa das duas, para viver.